Como o acompanhamento e a compreensão dos resultados financeiros podem melhorar o desempenho das empresas varejistas e trazer mais lucros. 

Fazer a gestão financeira de uma empresa varejista no dia-a-dia, é um grande desafio. Diante de tantas prioridades, o controle e planejamento financeiro podem parecer questões menos importantes ou muito difíceis. Além disso, a grande quantidade de métricas e indicadores podem trazer mais dúvidas que respostas. Que medida usar? O que é mais importante? Como saber se meu negócio vai bem? O objetivo deste texto é esclarecer essas dúvidas, orientando o varejista sobre a importância do planejamento e acompanhamento dos resultados.

Saúde do negócio

A primeira questão é saber se o negócio vai bem ou não. Qual é a medida que resume todas as outras e mostra a saúde do negócio? É a rentabilidade do patrimônio do acionista. O nome parece difícil, mas é a mesma medida usada quando você pensa, por exemplo, em uma aplicação financeira. Ela mede o ganho a cada período em relação ao capital investido. Para calculá-la basta dividir o lucro obtido a cada período (mês ou ano) pelo total do investimento feito pelos sócios. Por exemplo, se o lucro ao mês é de R$ 10 mil para R$ 100 mil investidos, então a rentabilidade é de 10% ao mês.

Para saber se a rentabilidade está satisfatória, de forma bem simples, basta compará-la com uma aplicação financeira, como uma aplicação em renda fixa. Essas aplicações atualmente rendem em torno de 1% ao mês. Em contrapartida, parece injusto comparar o rendimento de uma aplicação financeira, que você obtém sem esforço, a um negócio que requer conhecimento, dedicação e gestão. Portanto, a rentabilidade do patrimônio do acionista deve ser bem maior que 1%, por exemplo, pois deve haver uma compensação pelo risco.

O que está errado?

E se não for? Então é necessário verificar o que está errado. Para esse diagnóstico, é importante entender como a rentabilidade é formada. Um negócio pode ser rentável de duas formas: ou você ganha muito a cada venda ou então vende muito. Essas são as traduções para margem e giro elevados, respectivamente. A margem mede o lucro em relação às vendas. Se a empresa vende R$ 50 mil e o lucro é de R$ 10 mil, então a margem é de 20%.

Já o giro é uma medida de eficiência, que procura verificar se a empresa vende o bastante diante do investimento total realizado. Se o investimento total é de R$ 100 mil e as vendas são de R$ 50 mil, então a empresa gira 50% do seu investimento ao mês, ou seja, gira seu investimento total em dois meses. A figura a seguir demonstra as fórmulas e a relação entre margem, giro e rentabilidade.

Se o giro anda caindo, o problema pode ser uma redução ou estagnação das vendas, combinado ao investimento muito alto, por exemplo em estoques. Ter estoques é bom, sobretudo no varejo, mas é importante que o estoque gire. Caso contrário, significa investimento parado que não gera rentabilidade para o empresário. É importante conhecer os produtos que levam mais tempo para vender e regularmente fazer promoções para vendê-los mais rápido.

Já a margem pode cair por diversas causas. Uma delas é a redução da margem comercial, que consiste na diferença entre o custo do produto e o preço de venda. Outra causa pode ser o consumo da margem comercial pelas despesas fixas, como salários, aluguel, etc. Com a valorização imobiliária e o salário-mínimo reajustado anualmente, essas despesas têm sido cada vez mais pesadas para a empresa.

O que fazer quando a margem cai?

Uma opção seria aumentar os preços! Porém, essa nem sempre é a escolha mais acertada, pois, com a concorrência cada vez maior, ter preços maiores pode significar perder mercado, diminuindo o volume de vendas. Então o que fazer? A resposta pode ser tentar aumentar o giro, fazendo uma melhor gestão do estoque, por exemplo.

Além dos estoques, há a carteira de recebíveis, que são os valores a receber dos clientes. Esse é outro investimento que requer atenção do empresário. Sim! Um investimento, pois ao dar o prazo para o cliente, o empresário está assumindo que só receberá o valor daqui a 30, 60 dias ou mais, dependendo da forma de pagamento. E o dinheiro gasto com os produtos ou serviços sai do caixa da empresa e só retorna quando o cliente paga. Comercialmente isso pode ser bom, mas é um investimento que pode comprometer a saúde financeira da empresa.

Em momentos de aperto, é comum recorrer ao desconto bancário. Porém, as taxas praticadas são altas, chegando a 2% ou 3% ao mês. Isso reduz mais ainda a margem, e certamente vai reduzir a rentabilidade. Mas o pior ainda está por vir, porque uma vez recorrendo ao desconto, o que seria recebido no mês seguinte não ocorrerá, pois o valor já foi descontado no banco. E para cobrir o “buraco”, o empresário terá que recorrer novamente ao desconto, e assim sucessivamente.

Uma boa solução 

O que fazer então? Uma solução pode ser dar descontos para pagamentos à vista, deixando de sofrer as cobranças de taxas bancárias. Mas isso não basta. É necessário compreender o movimento da empresa e realizar o planejamento financeiro, identificando os períodos em que se precisará de mais ou menos capital, para que não tenha surpresas e acabe recorrendo a mecanismos como o desconto de recebíveis, ou até o cheque especial.

O acompanhamento desses poucos indicadores pode ajudar a entender como a empresa traz rentabilidade para os sócios, e assim planejar de forma mais saudável seu crescimento.

Texto escrito por Marcos Piellusch. 

Marcos Piellusch é Diretor Vogal do IBEVAR e professor da FIA. 

Fonte: Redação IBEVAR