O aumento das taxas de juros básicos vem provocando uma redução na confiança do consumidor sem precedentes. O que o varejista deve observar?

Há, no mundo, uma perceptível anomalia na confiança do consumidor. Historicamente, sempre que a inflação cai e o desemprego diminui, o nível de confiança do consumidor aumenta.

Entretanto, contrariando a expectativa, segundo pesquisa conduzida pelo National Bureau of Economic Research (NBER) (Bolhuis et al. 2024), embora a inflação esteja em queda e o nível de desemprego em redução nos Estados Unidos, o nível de confiança do consumidor do referido mercado está alarmantemente baixo.

Pelo mundo 

A justificativa para o efeito, segundo o NBER, estaria na inclusão do impacto do aumento do custo do dinheiro no sentimento dos compradores, ponto que, anteriormente, por sua irrelevância, era desprezada por eles.

Curiosamente, a mesma investigação aponta que não é apenas nos EUA que essa condição é observada. Diversas economias do mundo apresentam a mesma conjuntura. Por conseguinte, pode-se indagar: seria o custo do dinheiro justificativa para a queda da confiança do consumidor também no mercado brasileiro?

Segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE 2024a), a resposta é sim. Segundo o órgão , o Índice de Confiança do Consumidor, o ICC (FGV IBRE 2024b), também vem apresentando no Brasil, desde maio de 2023, uma sucessão de números negativos, devendo ser lembrado que tal fenômeno igualmente ocorre em condições de razoável controle da inflação e de resiliência do mercado de trabalho. Tal cenário, segundo o órgão, seria explicado pelo nível da taxa de juros e o endividamento elevado das famílias brasileiras.

Confiança do consumidor

Uma vez compreendida a causa da redução da confiança do consumidor no contexto atual, resta avaliar o que fazer com tal informação.

De salientar, nesse contexto, que o custo do dinheiro está atrelado à relação entre oferta e demanda do recurso ou do nível de poupança e investimento da economia.

Ao que tudo indica, a manutenção de níveis mais elevados das taxas de juros no contexto global não deve ceder no curtíssimo prazo (Orlik, Rush, e Flanders 2024).

Retração do custo do dinheiro

Isso posto, o varejista que está aguardando a retração do custo do dinheiro para ver seu negócio voltar a crescer, talvez devesse rever a estratégia e deixar de lado a esperança de voltar a agir como nos tempos de dinheiro barato.

Por outro lado, sempre bom considerar, independentemente do futuro das taxas de juros, que a depressão do consumidor não deve perdurar para sempre.

Só não parece prudente ficar esperando uma retomada do cenário anterior e não ajustar o negócio até que o ânimo retome. Você já ajustou o seu?

Referências
Bolhuis, Marijn A., Judd N. L. Cramer, Karl Oskar Schulz, e Lawrence H. Summers. 2024. THE COST OF MONEY IS PART OF THE COST OF LIVING : Cambridge, MA.
FGV IBRE. 2024a. “Confiança dos consumidores recua 2,4 pontos em janeiro”. Recuperado 5 de março de 2024 (https://portalibre.fgv.br/noticias/confianca-dos-consumidores-recua-24-pontos-em-janeiro).
FGV IBRE. 2024b. “Confiança dos consumidores recua e atinge menor nível desde maio de 2023”. Recuperado 5 de março de 2024 (https://portalibre.fgv.br/noticias/confianca-dos-consumidores-recua-e-atinge-menor-nivel-desde-maio-de-2023).
Orlik, Tom, Jamie Rush, e Stephanie Flanders. 2024. “Why the Cost of Money Is About to Go Up”. Bloomberg. Recuperado 5 de março de 2024 (https://www.bloomberg.com/news/articles/2024-01-11/why-the-price-of-money-is-about-to-start-going-up?leadSource=uverify wall).

Texto escrito Por David Douek

David Douek é Diretor Vogal do IBEVAR, mestre e doutor em administração pela FEA USP, arquiteto e urbanista pela FAU USP e administrador de empresas pelo Mackenzie. Fundou e dirige a OTEC, empresa de consultoria que atua no setor de real estate. Possui especializações em Green Buildings (Colorado State University), Investimentos Imobiliários (FGV), e Operações de Mercado Financeiro (FIA). Atua, também, como conselheiro do capítulo brasileiro da IBPSA e possui as seguintes credenciais: LEED FELLOW, LEED AP, WELL AP, Fitwell Ambassador e EDGE Expert. 

Fonte: Redação IBEVAR