Os tempos mudaram, ou melhor, voltaram algumas décadas e hoje presenciamos um forte movimento de valorização dos pontos comerciais mais próximos de seus clientes, as chamadas lojas de vizinhança ou proximidade.

Se voltarmos no tempo, na metade do século passado, o que predominava no comércio eram lojas pequenas e próximas da residência de quem precisasse do que fosse mais importante, como alimento, utilidade doméstica, material de limpeza…

Seja pela frenética rotina que assumimos no dia a dia, ou mesmo a vontade de termos mais tempo no home office, cada vez mais nos exigimos o direito de andar pouco ou quase nada para encontramos o que precisamos.

Nos último 5 anos vimos um boom dos grandes varejistas em expandir seus negócios através de lojas pequenas, não mais que 500 m² num raio inferior a 1.000 metros de uma unidade a outra.

Citando apenas as 2 maiores redes varejistas de alimentos no país, Carrefour e GPA, ambas possuem quase 400 lojas deste formato somente no estado de São Paulo, sendo a primeira tendo inovado com lojas autônomas, onde o cliente apenas se cadastra com uma forma digital de pagamento e passa suas compras sozinho pelo checkout e quanto a segunda, recentemente desmontou toda sua operação de lojas maiores de hipermercado para investir entre outros
negócios na expansão do seu formato de proximidade.

Redes menores se destacam

Na esteira deste boom, redes menores que sempre se destacaram por terem suas lojas com tamanho de média superfície,  entre 2 e 3 mil metros quadrados e estarem mais próximas do cotidiano de seus clientes, investiram em lojas de 150m² dentro de escritórios administrativos de grandes empresas e condomínios comerciais, assim como também com operação autônoma, de venda e cobrança self checkout dentro de condomínios residenciais, se instalando em pequenos espaços seja em salas ou em containers adaptados, ou seja, bateu aquela fome de madrugada, basta descer de elevador, acessar uma porta automática e escolher entre os aproximadamente 500 itens disponíveis o que comprar para resolver aquele momento. Esse movimento também se alastra pelo interior de São Paulo e outras capitais do país que já buscam pelo mesmo efeito da praticidade.

Esse segmento de proximidade, se aqueceu muito em 2020, com a vinda da bandeira OXXO, tradicional rede de conveniência mexicana que chegou através da joint venture da Femsa franqueadora da Coca Cola com o grupo Raizen detentora da Shell Select, criando assim o Grupo Nós, trazendo suas lojas já consolidadas há mais de 20 anos no México e
implementadas em vários países da América do Sul somando quase 20 mil pontos de venda.

Fórmula do sucesso

Em 2 anos de sua chegada por aqui já são mais de 100 lojas, uma a cada semana inauguradas no estado de São Paulo. Para entender a dinâmica da expansão desse negócio no Brasil é preciso raciocinar a fórmula em que a raiz está nas lojas que citamos no início do artigo, somado ao boom das lojas de conveniência americanas, aperfeiçoadas aos famosos kombinis no Japão (lojas que surgiram na década de 70 e hoje somam mais de 55 mil pontos de venda naquele país), multiplicado pela
pandemia que ora ainda vivemos onde quanto menos contato físico maior a sensação de saúde.

Agora para obter o êxito da ideia, é necessário aplicar a fórmula do sucesso
– Investimento em Tecnologia;
– Agilidade no Supply Chain;
– Sortimento assertivo de produtos (alimentares perecíveis e secos, complementares e não
alimentares).

Esses investimentos têm possibilitado um acréscimo considerado nas linhas de resultado financeiro das empresas, haja visto que os aportes para logística e tecnologia já são inerentes a qualquer tipo de negócio hoje em dia, enquanto os custos de ocupação e utilities e despesas de pessoal que representam aproximadamente 20% em um varejo tradicional, nesse formato de lojas caem pela metade. Sendo isso possível pela menor área ocupada ou até mesmo pela franquia oferecida gratuitamente do espaço ao estabelecimento por simplesmente proporcionar seus serviços aos seus colaboradores, condôminos ou moradores e pelo fato da mão de obra utilizada ser reduzida, gerenciada de forma remota.

Investir em outros segmentos

O negócio vem dando tão certo que hoje já vemos a ideia se alastrar para outros segmentos, como do varejo de materiais de construção.

Grupos multinacionais, Saint Gobain e Leroy Merlin já instalaram mais de uma dezena dessas lojas entre São Paulo e Rio Grande do Sul, tendo a segunda anunciado recentemente investir 1 bilhão de reais na abertura de 150 de suas lojas Express nas principais capitais do país nos próximos 2 anos.

Lojas entres 600 e mil metros quadrados oferecendo 10% da gama de produtos de seus espaços tradicionais que chegam a ocupar 18.000m² de área de venda, oferecendo o básico daquilo que alguém precise ao trocar uma torneira, instalar um chuveiro ou até mesmo dar um toque na decoração de sua casa.

Na onda de aproximação

Ainda na onda de aproximação, a tradicional Lojas Americanas conta com 2 bandeiras voltadas para este tipo de negócio, Americanas Express no conceito de vizinhança ocupando espaços de 400m² e Local Americanas atuando como conveniência em lojas de 100m². Curioso que apesar de disporem de sortimento reduzido para atenderem a necessidade daquele  momento, também oferecem a opção do cliente comprar de forma virtual, através de um stand instalado em suas lojas, qualquer produto dos seus 60 mil itens disponíveis em seus centros de distribuição ou no seu marketplace que disponibiliza milhares de produtos dos mais variados tipos para entrega na residência ou para retirar em qualquer uma de suas lojas, seja ao lado de casa, do trabalho ou no ponto de venda mais próximo de quem deseje enviar.

Ou seja, se o consumidor não dispõe nem quem gastar tempo em idas e vindas distante de seu habitat ou também não se sente a vontade de comprar online sem ver de perto ou tocar no produto, as opções são muitas para que resolva suas necessidades e desejos na hora de comprar.

Tudo isso, acontece as margens da expansão do segmento de chash & carry (atacarejos), evolução das startups de supermercado online e crescimento exponencial do e-commerce, assuntos esses que serão tratados nos próximos artigos.

Texto escrito por Luiz Antônio Ferreira (pesquisador associado do IBEVAR

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