Os indicadores de desempenho financeiro são uma importante forma de comparar e avaliar a saúde financeira das empresas, e o varejo não é diferente.
Neste artigo, abordaremos a compreensão mais profunda do significado das margens e a sua importância no universo da gestão das empresas.
Entre os indicadores financeiros, a Margem Bruta é um dos mais simples, porém um dos mais densos em termos de significado e relação com a estratégia do negócio. Seu cálculo é feito pela divisão do resultado bruto pela receita de vendas, conforme equação a seguir.
De forma resumida, a margem bruta mostra o quanto a empresa gerou de resultado bruto para cada R$ 100 em vendas. Por exemplo, uma margem bruta de 40% indica que, para cada R$ 100 em vendas, R$ 40 são o lucro bruto, ou resultado bruto.
Entendendo as contas
Para entender melhor o significado dessa métrica, é necessário compreender o que é o resultado bruto. Trata-se do valor da receita obtida pelas vendas deduzido do custo dos bens e serviços vendidos, conforme descrito a seguir.
No caso de uma empresa varejista, o custo dos bens e serviços vendidos compreende o valor de aquisição de todos os bens vendidos pela empresa no período. Por exemplo, se um varejista de eletrodomésticos compra uma unidade de lavadora de roupas pelo valor de R$ 2.000, esse será o custo do produto, e ao ser vendido, entrará para a somatória de custo dos bens vendidos no período. Se o preço de venda do produto for R$ 3.200, o resultado bruto será R$ 1.200.
Nota-se que o resultado bruto é uma medida importante, já que avalia a diferença entre o preço de venda e o custo dos bens vendidos. Para todos os produtos e serviços vendidos em um período, a receita será a somatória do preço de todos os produtos vendidos, ou seja:
Receita de vendas = preço de venda x quantidade vendida.
Já o custo dos bens e serviços vendidos em um período é obtido pela somatória do custo de todos os produtos vendidos, ou seja:
Custo dos bens e serviços vendidos = custo de aquisição x quantidade vendida
Dessa forma, o resultado bruto pode ser expresso pela seguinte relação:
Resultado bruto = (preço de venda – custo de aquisição) x quantidade vendida
Não que a intenção aqui seja demonstrar fórmulas, mas ao final das contas, a margem bruta, expressa em função dessas variáveis, poderá ser escrita também da seguinte forma:
Ou seja, a margem bruta de uma empresa é proporcional à capacidade de vender a um preço superior ao custo. Uma empresa que tem uma margem bruta maior, consegue vender a um preço maior, ou adquirir a um custo menor.
E o que isso significa para uma empresa?
Do ponto de vista econômico, o preço é decorrente da própria percepção de valor por parte do consumidor. Quanto maior o valor percebido pelo cliente, maior o preço que ele estará disposto a pagar no produto. Por isso, a margem bruta representa, em termos relativos, o valor agregado pela empresa, refletindo a criação de valor em uma transação econômica.
Obviamente, qualquer empresa desejaria vender seus produtos a um preço maior, obtendo assim maior margem bruta, já que isso promoverá uma maior geração de resultados para arcar com outros gastos e remunerar o capital.
Porém, a concorrência e a elasticidade da demanda, ou seja, a sensibilidade da demanda ao preço, dificultam a determinação de preços elevados, gerando um sistema de forças, conforme diagrama a seguir:
Além de refletir a competitividade das empresas, o valor agregado também desempenha um papel na alocação eficiente de recursos na economia. Empresas que conseguem gerar um alto valor agregado são tipicamente mais competitivas e atraem investimentos, o que pode levar a um direcionamento mais eficaz dos recursos para setores e atividades que criam mais valor para a sociedade.
Quem vence essa batalha?
As empresas que conseguem atingir margens maiores são aquelas que detém vantagens competitivas, ou seja, que conseguem praticar preços maiores, oferecendo valor aos clientes, ou conseguindo adquirir os produtos a custos menores.
O renomado autor Michael Porter, que introduziu o conceito de vantagem competitiva em seu livro “Competitive Advantage” destaca que a margem bruta é um dos elementos-chave para determinar a posição competitiva de uma empresa em seu setor.
Sendo assim, as empresas vencedoras são aquelas que detém um poder competitivo de destaque em relação aos seus clientes e fornecedores, de forma que consegue ampliar a diferença entre preços e custos, obtendo assim uma maior margem.
Deve-se destacar ainda que uma empresa que detém margem bruta superior tem outro tipo de vantagem, o poder para crescer. A conquista de participação de mercado se dá quando uma empresa promove esforços no sentido de aumentar sua competitividade diante dos concorrentes. Esses esforços envolvem redução de preços, aumento de custos (produzindo um produto superior) ou pelos esforços de comunicação, aumento da equipe comercial ou promoção de vendas.
A redução de preços e o aumento de custos levam à redução da margem bruta. Enquanto isso, os demais esforços acarretam aumento de despesas. Assim, uma empresa que detém uma margem bruta superior tem uma espécie de “gordura para queimar” no esforço de ganho de participação de mercado. Quanto mais margem bruta, mais gordura essa empresa terá e maior a capacidade de concorrer no seu setor.
Isso é mesmo importante?
Embora a margem bruta muitas vezes não seja vista como um indicador preferido nos programas de metas das empresas, seu uso é amplamente disseminado no âmbito dos investimentos.
Grandes autores e investidores ressaltam a importância desse indicador.
Por exemplo, o lendário investidor Warren Buffett frequentemente enfatiza a importância da margem bruta ao avaliar empresas. Ele acredita que as empresas com margens brutas consistentemente altas tendem a ter vantagens competitivas duradouras.
Na mesma linha, Benjamin Graham, mentor de Warren Buffett e autor de “O Investidor Inteligente” enfatizou a importância da margem bruta como um dos principais indicadores para avaliar a qualidade de uma empresa.
Peter Lynch, renomado gestor de fundos de investimento e autor de “O Jeito Peter Lynch de Investir”, também destacou a margem bruta como um dos fatores importantes ao escolher ações para investir. Ele acreditava que as empresas com margens brutas crescentes eram um sinal positivo.
Joel Greenblatt, autor de “The Little Book That Beats the Market”, desenvolveu uma estratégia de investimento conhecida como “Magic Formula”, que usa a margem bruta como um dos critérios-chave para selecionar ações.
O IBEVAR iniciou em 2023 o estudo de indicadores de desempenho das empresas varejistas. E a margem bruta está entre os indicadores financeiros selecionados para classificar o desempenho das empresas varejistas. (confira aqui).
Na próxima matéria, exploraremos os aspectos específicos que contribuem para o aumento da margem bruta, em especial para as empresas varejistas. Não perca!
Texto escrito por Marcos Piellusch.
Marcos Piellusch é Diretor Vogal do IBEVAR e professor da FIA.
Fonte: Redação IBEVAR