Cada vez mais empresas participam ativamente com iniciativas que promovem ações de cuidado com a saúde mental de seus colaboradores. Por uma série de razões, os holofotes estão direcionados para os programas que comtemplam esse tema.
Com o momento desafiador da pandemia vivido mundialmente, a saúde mental passou a ser assunto de ordem prioritária no mundo corporativo. A partir da retomada que vem acontecendo nos últimos meses, grande parte das empresas de varejo adotam projetos que trazem esse cuidado aos seus colaboradores.
Novo normal com novos olhares
É uma mudança de paradigmas significativa, pois até muito pouco tempo atrás a saúde mental não tinha nenhum espaço dentro das corporações. Enquanto que as doenças físicas em ambientes profissionais já são amplamente reconhecidas e, por isso, as empresas já tomam as medidas necessárias para a prevenção, como o uso de EPI’S, entre outras ações compensatórias. Entretanto, apesar desse novo olhar, é importante ressaltar que os riscos físicos, químicos, ergonômicos, biológicos, entre outros, são mais tradicionalmente relatados, falados, tratados e com protocolos bem definidos. Já as doenças psicossociais ainda possuem um diagnóstico difícil, principalmente no ambiente corporativo.
A maioria das empresas não sabem lidar com o estresse mental dos seus colaboradores, que se manifesta de inúmeras maneiras, como: fadiga, falta de concentração, desânimo, ansiedade, irritabilidade, isolamento, lapso de memória, pessimismo, baixa autoestima e mudança brusca de humor. Equivocadamente, esses sintomas são vistos como um cansaço pontual que pode ser resolvido com programação de férias, alguns dias de descanso ou até mesmo, uma motivação simples, muito usada em programas de premiação. Mas trata-se de algo bem mais sério. Segundo dados da OMS, a terceira maior causa de afastamento do ambiente de trabalho, são os transtornos como depressão, estresse e ansiedade.
Só em 2020, o adoecimento mental levou a 576 mil pessoas afastadas do mercado de trabalho, um aumento de 26% em comparação a 2019, segundo dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho.
As perdas não são somente do profissional, mas também das empresas. Segundo pesquisa do Fórum Econômico Mundial, as companhias em todo o mundo perdem cerca de 2,5 trilhões de dólares em produtividade, com faltas no trabalho e rotatividade. Com isso, fazer uma gestão baseada no compromisso da empresa para entender como esses riscos se manifestam e oferecer um ambiente de qualidade, que preserve a saúde física e psicológica do colaborador, é fundamental.
Índices de adoecimento laboral
Recentemente, a Síndrome de Burnout foi considerada como uma doença ocupacional, após a sua inclusão no CID (Classificação Internacional de Doenças) da OMS (Organização Mundial da Saúde). Na prática, isso significa que, por lei, todos os profissionais acometidos pela doença, também passam a ter os direitos trabalhistas e previdenciários assegurados, como já acontece com as demais doenças relacionadas às atividades profissionais.
Essa mudança de classificação elevou a discussão sobre a saúde mental no trabalho. Especialistas alertam sobre a importância dos programas pautados em nutrir ainda mais a segurança psicológica, onde as pessoas podem compartilhar ideias, errar, sem sofrer punições por isso, pois a empresa terá que cuidar do funcionário integralmente no âmbito profissional, pessoal e mental.
Outras síndromes como LER (Lesão por Esforço Repetitivo), DORT (Distúrbios Osteomusculares relacionados ao Trabalho), Surdez Temporária ou definitiva, Asma Ocupacional, dentre outras, sempre existiram, mas, as doenças que mexem com o psicológico dos colaboradores que vivem o estresse adicional da pandemia de COVID, há pelo menos dois anos, fizeram com que o setor corporativo prestasse muito mais atenção no tema que envolve a saúde mental.
Nutrir a segurança psicológica
Izabela Mioto, Sócia co-fundadora da Arquitetura RH afirma que os índices de adoecimento emocional que são alarmantes e relembra que o Brasil é campeão mundial em ansiedade. “Lembro de uma reportagem marcante da Revista Superinteressante de 2018 que retrata como o país é campeão em ansiedade com 3.5 vezes mais do que a média da população mundial”, conta ela. Essa matéria diz que o brasileiro consome medicamentos em patamares recorde para esse fim. E ainda revela que estamos em terceiro lugar com o país que mais desencadeiam depressão e Síndrome de Burnout no trabalho. Izabela fala sobre uma pesquisa americana de um professor de Universidade de Stanford chamado Jefferd Pfeffer, que mostra que o trabalho é a quinta maior causa de morte. Esse resultado influenciou na escolha do título do livro dele: “morrendo por um salário”. Para a executiva, de alguma forma, o ser humano tem adoecido e a pandemia também intensificou isso. “O RH mostrou uma pesquisa de 2020 que sete em cada dez brasileiros estão com o medo mais acima do normal por conta da pandemia da Covid-19 (e agora as suas variantes). Portanto, estamos vivendo um momento em que as organizações precisam trazer um foco pra isso, cuidar da saúde emocional é abrir espaço para o sentir, onde os profissionais não precisam esconder aquilo que estão sentindo, por medo de mostrar fragilidade no ambiente de trabalho. Não vivemos mais aquele modelo rígido de gestão fria e calculista empenhada apenas em resultados numéricos. Hoje há uma humanização muito bacana e benéfica nos processos”, comenta Izabela Mioto. Ela ainda enfatiza que hoje há várias pesquisas sobre esse assunto que levantam a importância do tema, uma delas é o “Projeto Aristóteles” do Google, “que fala que o primeiro fator de sucesso entre os cinco que eles mapearam para uma equipe é a segurança psicológica”, diz Izabela. “Eu tenho visto organizações muito atentas ao cuidado da saúde emocional. Posso citar o exemplo da AmBev que criou até uma área específica com uma diretoria pra cuidar da saúde emocional dos seus colaboradores. E a klabin que também direciona esse olhar de uma forma muito consciente, e acho que esse é o caminho pra gente não perder engajamento e nem performance”, finaliza a executiva.
Programas efetivos de prevenção
O fato é que se torna cada vez mais fundamental as empresas cuidarem dos seus colaboradores, principalmente no período pós-pandemia, já que vivenciamos uma nova organização de trabalho que contempla novos desafios, tais como o local onde trabalhamos – seja de maneira híbrida, presencial ou remota -, a forma que vivemos o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, a saúde mental, seja como encaramos a pressão de nossos próprios parâmetros muitas vezes idealizados na busca por uma carreira bem-sucedida, que por muitas vezes, acaba gerando estresse e outros tipos de sofrimentos mentais, que podem ser gatilhos para o adoecimento.
As empresas começam a ter um olhar mais integral para o colaborador como um todo e esse processo precisa ser cada vez mais intensificado e elaborado em programas efetivos de prevenção e incentivo.
Fonte: Redação IBEVAR