O que você precisa saber

  • Por causa da pandemia, os consumidores estão cada vez mais preocupados com a sustentabilidade. No futuro, produtos sustentáveis devem ter mais apelo de venda do que os tradicionais.
  • Uma pesquisa do Mercado Livre mostra que os produtos mais comprados na aba de sustentabilidade foram painel solar, garrafa reutilizável e cápsulas de café reutilizáveis.
  • Apesar das grandes empresas terem mais investimento para apostar na sustentabilidade, empresas pequenas também conseguem trazer um impacto positivo, mesmo com ações de menor escala.

Painel solar, garrafa reutilizável e cápsulas de café recarregáveis foram os produtos sustentáveis mais vendidos pelo Mercado Livre de abril do ano passado a março deste ano. Em resposta à procura dos consumidores, cada vez mais empresas apostam na sustentabilidade como modelo de negócio – seja na criação de produtos sustentáveis ou de processos menos agressivos ao meio ambiente.

O Mercado Livre não está sozinho. Grandes empresas, como Natura e GPA (Grupo Pão de Açúcar) também estão aumentando a oferta de produtos com pegada sustentável.

Qual o contexto disso? Especialistas ouvidos pelo 6 Minutos dizem que os consumidores devem demandar cada vez mais produtos sustentáveis e que esse não vai mais ser um diferencial, mas um item obrigatório na hora de definir a compra.

O Mercado Livre, por exemplo, possui uma categoria específica no marketplace, com mais de 33 mil produtos sustentáveis vendidos por cerca de 10.700 empresas. Os produtos mais buscados na plataforma no Brasil, foram bicicleta convencional, garrafa reutilizável e bicicleta elétrica.

“O nosso olhar é sempre muito conectado ao negócio, entendendo como a tecnologia associada à expertise da companhia podem contribuir para as comunidades, para as organizações e para os empreendedores”, afirma Laura Motta, gerente de sustentabilidade do Mercado Livre.

Na visão da empresa, o alcance do seu e-commerce permite aumentar o debate sobre sustentabilidade e dar mais opções ao consumidor final. Em julho, por exemplo, o Mercado Livre promoveu a Ecofriday, sexta-feira com descontos na categoria sustentável.

Hábitos do consumidor

Para Patricia Cotti, diretora executiva do Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo), se a sustentabilidade era um tema que vinha crescendo, a pandemia fez com que o consumidor olhasse com ainda mais atenção para o assunto.

“O consumidor começa a olhar para isso não só como um diferencial do produto, mas passa a ser uma necessidade básica. Tem as empresas que estão tornando isso uma vantagem competitiva, desenvolvendo produtos e processos sustentáveis”, afirma Cotti.

Também há um aumento da busca do “usar” ao invés de “ter”. Cada vez mais os clientes estão buscando por alternativas em que consigam usar determinado produto sem necessariamente se tornar dono dele.

“O tema ganhou relevância, porque a crise sanitária trouxe esses novos valores, em pensar mais na saúde básica. O consumidor está valorizando mais a vida, o meio ambiente e ficou mais consciente porque teve um grande choque”, afirma Cotti.

A transformação é sentida na procura dos clientes por produtos deste tipo: a mesma pesquisa do Mercado Livre diz que o número de consumidores que compraram pela primeira vez um produto sustentável cresceu 81% neste ano em comparação a 2019.

“A gente vê a mudança, mas ela ainda está só começando e precisamos cada vez mais que esse consumidor possa fazer as escolhas e demandar as empresas para acelerar essa mudança de comportamento”, afirma Motta.

Sustentável não é mais caro? O preço ainda pode ser considerado um entrave na hora de comprar um produto sustentável. Para Motta, o produto em si pode ser mais caro, mas costuma ter um bom custo benefício considerando que são, em sua maioria, reutilizáveis.

“Temos que ter consciência de que grande parte da população brasileira nem pode fazer escolhas de consumo. Nem sempre essas escolhas estão ao alcance de todas as pessoas, mas em muitos casos a aquisição desses produtos gera economia e eficiência no médio prazo”, explica Motta.

Como escolher produtos mais sustentáveis? As dicas dos especialistas são olhar a composição do produto e buscar por itens que tenham certificações oficiais de sustentabilidade.

Outra indicação é olhar quem são os empreendedores por trás do bem que está sendo vendido. “Quando olhamos os produtos da Amazônia, por exemplo, estamos falando de grupos produtivos, de mulheres que tem histórias de atuação no território para a conservação. Quando você tem esse olhar, te ajuda a escolher para quem você quer gerar renda com a sua compra”, afirma Motta.

Empresas pequenas conseguem ser sustentáveis? “As empresas grandes têm mais impacto até por terem mais dinheiro para investir. Eles desenvolvem produtos tanto com o propósito de sustentabilidade como de marketing. As menores não precisam pensar nisso tudo: conseguem adotar práticas menores, como descarte consciente. O pequeno tem uma questão da regionalidade que é importante, faz com que ele possa fazer ações mais específicas”, afirma Cotti.

Para Cotti, as pequenas empresas conseguem fazer o processo inteiro ser sustentável de forma mais fácil, já que todos os processos são mais controlados, enquanto as empresas maiores precisam investir valores maiores para mudar toda uma estrutura já existente.

Gabriel Silva, fundador da Ahimsa, marca que vende sapatos veganos, foi para o setor de calçados por acaso. Silva começou a carreira como piloto de avião, mas, ao ser diagnosticado com diabetes, precisou parar de voar e reestruturar toda a carreia. Como o pai trabalhava com calçados, foi para este ramo.

Por causa da doença, precisou mudar os hábitos alimentares e se interessou pelo vegetarianismo e veganismo aos poucos. Percebeu que queria atuar em uma empresa que fosse sustentável e, assim, criou a Ahimsa.

“Eu não queria estar envolvido com a indústria cruel de calçados. Conversei com meu pai e, em 2013, começamos a formular a marca. Unimos o know-how da indústria de calçados com uma produção coerente com a causa, e criamos um sapato vegano, que tem a caixa reciclada e um envio com menos poluentes”, afirma Silva.

Quais as dificuldades que ele encontrou? No início, encontrar uma matéria-prima parecida com couro e que tivesse um bom desempenho. “Até dois anos, ainda lidávamos com um calçado de performance não tão boa quanto os tradicionais que a população estava acostumada. Mas agora encontramos materiais sintéticos de composições infinitas até melhores do que couro original”, conta.

O grande problema ainda continua sendo escalar a marca, para ter cada vez mais alcance, e vencer o preconceito que algumas pessoas ainda têm sobre esse tipo de produto.

“A grande vantagem é que, diferente de grandes marcas, podemos garantir não só a qualidade sustentável da matéria-prima, mas também da forma como o sapato é feito, como a mão de obra é empregada e recompensada”, afirma Silva.

Fonte: 6minutos