Há poucos dias, o mercado imobiliário brasileiro deu vida a uma transação bilionária. A incorporadora adquirente, uma das maiores do mundo, absorveu de outro respeitado player do mercado quase 6 bilhões em ativos imobiliários corporativos. Se a envergadura do negócio, por si só, já traria motivos para estudá-lo por diversas perspectivas, é um aspecto em particular que  merece atenção.

A pandemia, que teve como uma de suas consequências o incremento do trabalho remoto, trouxe para o mercado imobiliário um questionamento recorrente entre grandes investidores do setor: será o fim dos edifícios corporativos?

Sem entrar no mérito de estarmos ou não efetivamente no fim da pandemia, a consolidação de um negócio da monta supra-citada sugere que a resposta ao questionamento acima aventado seja negativa.

O rumo dos centros empresariais

Em cidades como Toronto, onde há áreas com grandes concentrações de imóveis corporativos, sem ocupação residencial, o fim do trabalho presencial coloca em cheque não só a viabilidade destes empreendimentos, como também de empresas que sobrevivem às custas deles e, certamente, de varejistas incluídos entre estes. O abandono destes centros significaria a necessidade de uma completa reformulação das  áreas por eles ocupadas. Há, portanto, interesse na volta ao trabalho presencial.

O jogo de forças travado entre os proprietários de imóveis corporativos, governos e outros stakeholders favoráveis ou não ao trabalho remoto, além da realidade sobre o crescimento do e-commerce,  promovem a seguinte ponderação: se para alguns a pandemia é fonte de novas verdades absolutas, tais como o fim do varejo físico, ao que parece, outros  podem estar pressionando para a manutenção de um sistema vigente e, ao menos até o momento, lucrativo.

Gestão do portfólio imobiliário

Para o varejista, isso pode significar que, além de ter que manter o equilíbrio entre aspectos como a experiência do consumidor e o essencial controle de custos, seja oportuno cuidar para que as decisões estratégicas e, consequentemente, a composição de ativos imobiliários da empresa não sejam unicamente baseadas num eventual efeito de curto prazo que a pandemia possa ter provocado.

Na prática, a gestão do portfólio imobiliário de uma empresa varejista depende de uma análise de sua composição atual e da expectativa de variação das condições do mercado em cenários futuros.

Texto escrito Por David Douek

David Douek é mestre e doutorando em administração pela FEA USP, arquiteto e urbanista pela FAU USP e administrador de empresas pelo Mackenzie. Fundou e dirige a OTEC, empresa de consultoria que atua no setor de real estate. Possui especializações em Green Buildings (Colorado State University), Investimentos Imobiliários (FGV), e Operações de Mercado Financeiro (FIA). Atua, também, como conselheiro do capítulo brasileiro da IBPSA.

Fonte: IBEVAR