A Inteligência Artificial é uma novidade que precisa ser comemorada. Imagine uma loja te tratar exatamente do jeito que gosta, lhe deixar a vontade para escolher, notar se você quer ou não o produto que está olhando e até mesmo, por meio desses insights, oferecer uma estratégia mais eficaz de compra. Essa realidade existe no varejo brasileiro. 

Entrei em uma loja, recentemente, e rapidamente uma vendedora me abordou dizendo que sabia que não queria ajuda, mas que ela estaria ali caso precisasse. Ela estava certa. Eu queria olhar as opções daquele local com tranquilidade, afinal, ainda não sabia o que levaria. Mas fiquei pensando como ela tinha conseguido essa informação sem precisar falar.

A resposta é simples: eles possuem um sistema de Inteligência Artificial que lê as emoções de cada consumidor que entra naquele local. Dessa maneira, eles entendem como deve abordar cada pessoa que está ali.

Tudo isso é, certamente, um avanço que pode ajudar em muitos seguimentos, como no caso da loja. Mas para tantas outras áreas, deve ser visto com cautela.

Tecnologia que vem para somar

Primeiro, é preciso lembrar que a IA é uma tecnologia que vem para somar e não para substituir a capacidade e inteligência humana. Segundo, é que ela pode errar se for conduzida totalmente sozinha. Terceiro, é preciso rever até onde nossas emoções e sentimentos podem e/ou devem interferir em diversas decisões.

Entender como e onde aplicar a IA que lê as emoções é um ponto importante, já que mal empregada pode ser um grande risco para qualquer tipo de negócio.

Pelo mundo, temos exemplos que deram certo e que trouxeram resultados positivos quando bem usada. Mas vale a reflexão: será que estamos prontos para isso?

Máquinas versus Humanos

Os avanços nesse assunto estão cada vez mais rápidos. Um estudo publicado na revista IEEE Transactions on Affective Computing, mostra que sinais fisiológicos foram adicionados à análise de sentimento multimodal pela primeira vez por pesquisadores do Japão.

A equipe analisou 2.468 interações com uma IA de diálogo, obtidas de 26 participantes, para estimar o nível de prazer experimentado pelo usuário durante a conversa. O usuário foi então solicitado a avaliar o quão agradável ou entediante eles acharam a conversa. A equipe usou o conjunto de dados de diálogo multimodal chamado “Hazumi1911”, que combinou exclusivamente reconhecimento de fala, sensores de tom de voz, expressão facial e detecção de postura com potencial elétrico da pele, uma forma de sensoriamento de resposta fisiológica.

Em escolas espalhadas pelo mundo já vemos a inteligência artificial sendo usada para entender as emoções dos alunos. Isso aconteceu em um colégio secundário de garotas de Hong Kong, enquanto elas assistiam aulas de suas casas.

Todas as expressões faciais foram constantemente analisadas por meio das câmeras de seus computadores. Enquanto isso, o software chamado 4 Little Trees, um programa de inteligência artificial (IA), começou a ler as emoções dos alunos enquanto aprendem.

Os desenvolvedores do software afirmam que o objetivo é ajudar os professores a personalizar e tornar o ensino a distância mais interativo, para que eles possam responder às reações dos alunos em tempo real. O algoritmo 4 Little Trees mede os micromovimentos dos músculos faciais e tenta identificar emoções como alegria, tristeza, raiva, surpresa ou medo. A empresa garante que os algoritmos geram relatórios sobre o estado emocional de cada aluno, podendo também avaliar sua motivação e atenção. Eles também alertam os alunos para “prestarem atenção novamente quando estiverem distraídos”.

Impacto em diversos setores

As gigantes da tecnologia dos EUA, como Amazon, Microsoft e Google, oferecem análise básica das emoções, enquanto outras empresas menores, como Affectiva e HireVue, as adaptam para setores específicos, como automotivo, publicidade ou recursos humanos. A Disney usou a mesma tecnologia para testar as reações de seus voluntários a uma série de filmes, como Star Wars: O Despertar da Força e Zootropolis.

A minha previsão é que a IA que lê as emoções estará, muito em breve, espalhado por toda parte, julgando nossos sentimentos por meio da nossa face.

Entretanto, é sempre bom lembrar que cálculos, algoritmos baseados em probabilidade não são suficientes para criar uma ferramenta 100% confiável e dessa maneira é bem provável cometer injustiças. Outro ponto é que em diversos lugares do mundo, o modo de expressar emoções é diferente.

E apesar de estarmos diante de uma evolução tecnológica importante, que pode impactar diversos setores, ainda assim precisamos testar, analisar, observar os algoritmos e unir a inteligência humana para saber usar, de maneira certeira, a IA no processo de ler emoções.

Texto escrito por Alessandra Montini (Diretora do LabData da FIA)  

Fonte: Redação IBEVAR