Gerar valor para a empresa é cada vez mais desafiador, ainda mais com as mudanças que estamos vivendo como consequências da pandemia e da Indústria 4.0. No entanto, o mindset ágil é capaz de apontar soluções mais certeiras para as companhias.
Para entender do que isso se trata, entrevistamos o Prof. Reinaldo Nogueira, especialista no assunto que realizou um webinar sobre o tema no dia 16 de março. O evento é organizado pelo IBEVAR (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo), online e gratuito.
Na entrevista, ele conta o que é mindset ágil e de que forma um profissional e a empresa podem crescer juntos no mercado atual. Confira abaixo:
O termo mindset ágil pode parecer muito amplo para quem está tomando contato com o termo pela primeira vez. É possível definir brevemente do que isso se trata?
A grande característica que a gente procura encontrar quando se fala de mindset ágil é trazer um conceito de acertar mais rápido e errar mais rápido. Isso virou uma máxima de mercado. Mindset ágil não significa fazer mais rápido. Vamos falar em termos de projetos, por exemplo. Se demorariam dois meses para fazer um projeto tradicional, um projeto ágil demoraria os mesmos dois meses. O que muda é a frequência de relações que o mindset ágil gera no meio do caminho. Ele tem uma potência muito grande de relacionamento diário.
São usados muitos gerúndios nesse caso, você vai acertando, analisando, gerenciando, contemporizando… Esse é o lado positivo desse gerundismo. E ele também acaba mostrando pontos que precisam melhorar. Por que eu tenho que esperar um pacote inteiro de trabalho para saber os erros e acertos? É aí que entra o ágil.
O ágil traz essa perspectiva de você ter uma visão ampla e, ao mesmo tempo, específica sobre cada passo que está sendo executado e a possibilidade de usar uma sintonia fina para corrigir o que for necessário e continuar acertando.
Para entender melhor de que forma o mindset ágil gera valor para o varejo de bens e serviços, você pode contar por onde começa essa relação?
Bom, o setor de varejo e serviços é bem versátil, existe uma capilaridade muito grande. Você fala com muita gente, existe um B2C pesado, e você precisa compreender esse diálogo da melhor forma, porque a essência é que a relação é muito rápida e próxima. As pessoas querem uma relação muito particular e peculiar ao mesmo tempo, e querem que você as faça sentir únicas naquele momento.
O grande ponto que entra aqui para desenvolvimento de valor para o varejo de bens e serviços em geral seria a particularização da relação. E não tem outra forma de falar disso a não ser com gestão de dados. Hoje, fala-se muito sobre saber gerir os dados da relação. É preciso ouvir o que o cliente diz e o que o consumidor diz.
São duas figuras diferentes: o cliente é aquele que tem a relação da compra, a relação comercial, enquanto o consumidor é aquele que tem a experiência. Em algum momento, o consumidor exerce o papel de cliente, mas em outros momentos não. Existe uma entidade que se relaciona, que é o consumidor, e outra que consome, que é o cliente.
Ou seja, o grande ponto aqui é saber quem é quem, saber os dados das informações e fazer a gestão de dados a partir desse comportamento. Esse é o grande desafio que vejo hoje alavancado no marketing 4.0, que fala muito da inteligência de dados como propulsão para que as coisas aconteçam com eficiência.
Quais foram as mudanças que aconteceram ou que estão acontecendo que abriram caminhos para isso ser tão importante hoje em dia?
Os métodos ágeis, em geral, permitem o uso de tecnologia em uma relação muito mais próxima. Essa relação passa pelo conhecimento através do dado. Esse é o grande ponto> ter a tecnologia a seu favor significa ter muito mais gestão de dados para conhecer exatamente o comportamento das pessoas.
A Netflix, por exemplo, sabe exatamente onde você entrou, onde você clicou, se você pausou a série, se você fez maratona, se você gosta de automóveis BMW, porque sempre volta na mesma cena. E a partir daí todas as pessoas que têm esse comportamento se tornam uma persona e eu consigo descobrir em que ponto a BMW aparece na vida delas, seja em séries, comerciais, e assim por diante.
Portanto, hoje é possível fazer uma relação muito próxima a partir do dado, gerando de repente uma minissérie de oito capítulos de fuga na Europa usando uma BMW para cima e para baixo, por exemplo. Eu tenho certeza que a persona que gosta de BMW, que representa 2 milhões de pessoas no mundo, consumiram essa série. Portanto, de cara eu já saio com esse potencial de público consumidor.
Nesse ponto, o ágil tem essa característica de relação próxima justamente por utilizar dados, refinar o relacionamento e colocar mais fichas onde eu estou acertando. Se não estou acertando, eu consigo mudar e mudar rápido.
Sabemos que o assunto será bem mais aprofundado no webinar do dia 16/03, mas você poderia nos contar um pouco sobre a relação do mindset ágil com a tecnologia aplicada e gestão de dados?
Eu diria “tecnologia aplicada à gestão de dados”. Basicamente, é isso oque vamos abordar. O que existe hoje é uma profunda transformação que foi apelidada de transformação digital. Mas esse conceito poderia ser ampliado para transformação humana, estratégica e digital (THED). Isso mostra como a empresa está mudando a forma como ela gera suas operações e como se relaciona com o mercado. Então, hoje, a empresa está criando uma ponte entre a inteligência competitiva e a vantagem competitiva.
No meio do caminho, existe uma estratégia. Estratégia é o caminho, é o que liga o interno ao externo. E nessa estratégia estou usando gestão de dados. Sou puramente uma pessoa orientada a dados, o que em inglês chama-se “data dreaming”. Ou seja, empresas orientadas a dados que fazem um sentido profundo na relação com o mercado hoje.
Na sua opinião, quais são os profissionais que devem estar alinhados com essa agilidade mental para continuar evoluindo na carreira?
Olha, aquele profissional que tem relação com o mercado, aquele que faz o perfil do consumidor, aquele que compreende as necessidades do negócio, as perguntas do negócio, e que tem o dever dentro da área de operações de responder a esse mercado.
Se eu esticar essa resposta, eu diria que todo mundo dentro da empresa tem esse mindset ágil como grande objetivo, se já não atingiram. E por aí mora um novo estilo de empresa que pode abordar esse mercado. É por aí que eu sugiro que as empresas sigam. Não ter um ilha de excelência, onde somente pessoas especialistas lidem com isso.
Mas aí a ilha de excelência é a própria empresa, todo mundo deve ter essa visão dentro da companhia, todo mundo precisa abraçar que o consumidor tem um perfil e ele precisa ser respeitado, entendido, compreendido e trabalhado. Essa é a grande linha de raciocínio que, no meu entender, faria todo o sentido.
Lógico que o cientista de dados e o analista de dados têm cadeira cativa, mas o profissional dentro da companhia como um todo, ninguém pode se sentir excluído. Todo mundo precisa ter a visão do mindset ágil com foco em dados para que a empresa consiga evoluir bem. É um evoluto em paralelo, com todos de mãos dadas, e não aquilo de que apenas uma célula de inteligência fazer a evolução sem a participação do restante. Na visão corporativa que eu tenho hoje, isso não faz muito sentido.
Fonte: LABFIN-PROVAR