O varejo entre o otimismo das novas regras de flexibilidade para o uso das máscaras e o impacto da variante Ômicron no mundo do trabalho. Apesar da medida divulgada ontem que tira a obrigatoriedade da máscara em lugares abertos acender esperanças ao cenário do varejo, o mercado ainda é impactado com a variante Ômicron que afeta em cheio o mundo do trabalho.

O Governo de São Paulo anunciou a retirada da obrigatoriedade do uso de máscaras ao ar livre. A medida autorizada pelo Governo Paulista passou a vigorar ontem, 09 de março de 2022.

Em ambientes fechados, como shoppings, restaurantes, lojas, supermercados, transporte público e dentro das escolas, porém, não há flexibilização: o uso permanece obrigatório. O novo decreto foi publicado no início da tarde em edição extra do Diário Oficial desta quarta.

A liberação das máscaras era estudada desde o final do ano passado pelo Comitê Científico que orienta a gestão do Governo de São Paulo, entretanto, com a chegada e o avanço da variante Ômicron, foi decidido manter a regra, inicialmente prevista até o final de março.

Otimismo para o mercado

A medida sinalizava grande otimismo na retomada gradativa da vida social e da economia do país.

Entretanto, o varejo ainda contabiliza os impactos causados pela Covid-19. Recentemente a propagação da variante Ômicron afetou em cheio o mundo do trabalho, com um aumento exponencial dos afastamentos laborais.

Um levantamento feito pela Associação Médica Brasileira (AMB) que ouviu 3.517 profissionais entre 21 e 31 de janeiro de 2022, constatou que 96,1% dos médicos que atendem pacientes com Covid-19 observaram tendência de alta no número de casos não letais, mas com grande taxa de contagio. O que consequentemente leva ao afastamento de muitos profissionais, já que ao ter a confirmação de um caso, todos os colaboradores que tiveram contato com o profissional infectado, devem também ser afastados para coleta de exames e diagnóstico. Isso pode comprometer uma equipe inteira.

Colaboradores que realizarem testagem (RT-PCR ou teste rápido de antígeno) para Covid-19 com resultado negativo no quinto dia, podem sair do isolamento, antes do prazo de 7 dias, desde que não apresentem sintomas respiratórios e febre, há pelo menos 24 horas, e sem o uso de antitérmicos. Se o resultado for positivo, é necessário permanecer em isolamento por 10 dias a contar do início dos sintomas.

Saúde ocupacional e alta

A pesquisa avaliou o cenário da saúde ocupacional e comprovou o aumento de 300% no afastamento de colaboradores no início de 2022.

Durante o ano de 2021, a Covid-19 passou a ser o principal motivo de afastamento do trabalho. Segundo a pasta, os registros correspondem somente aos afastamentos superiores a 15 dias, cobertos pelo Regime Geral de Previdência Social do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Notícias internacionais mostram que com a alta do número de casos da variante Ômicron, o sistema alimentar dos EUA renova a tensão. Fábricas de processamento e mercearias perdem forças de trabalho de funcionários que adoecem com o vírus e estão deixando lacunas nas prateleiras dos supermercados. Executivos e analistas do setor de alimentos alertam que a situação pode persistir por semanas ou meses, mesmo que a atual onda de infecções por covid-19 diminua.

No Arizona, 1 em cada 10 trabalhadores de fábricas de processamento e distribuição de uma grande empresa de produtos agrícolas adoeceu recentemente. Em Massachusetts, a doença entre os funcionários já retarda o fluxo de peixes em supermercados e restaurantes. Já uma cadeia de supermercados no Sudeste dos EUA teve que contratar trabalhadores temporários depois que cerca de um terço dos funcionários se infectou em seus centros de distribuição.

Impacto no varejo

O professor Claudio Felisoni, presidente do IBEVAR – Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo,  foi um dos convidados do Broadcast empresas (Grupo Estadão) na live que aconteceu em fevereiro para debater os impactos da nova variante na economia e no setor varejista neste início de ano.

Na ocasião o professor Claudio Felisoni afirmou que as incertezas deixam o mercado sem planejamento. “Existe uma diferença enorme entre incerteza e risco”, diz o presidente do IBEVAR. E explica que o risco é quando você conhece dados futuros e consegue jogar com as probabilidades. A situação de incerteza é quando não se sabe o que vai acontecer. Sendo assim, não é possível atribuir chances para esses cenários futuros. “Um dos grandes impactos da variante Omicrôn para o varejo é que ela reverbera a incerteza no mercado e eu afirmo que é muito melhor lidar com um cenário pessimista, mas de riscos em que se consiga atribuir probabilidades, onde seja possível fazer um processo de planejamento, do que uma situação de incerteza absoluta, pois nesse contexto não é possível se prevenir”, avaliou Cláudio Felisoni na live.

“Para o primeiro semestre de 2022 o IBEVAR estima queda de consumo no varejo em pelo menos 6 segmentos em razão principalmente da inflação que permanece em dois dígitos”, comenta ele. Para Felisoni, a retomada verdadeira só poderá acontecer de forma efetiva a partir do momento que os investimentos voltarem a acontecer no mercado, mas para isso é necessário que a confiança seja recuperada. Assim como a capacidade de renda também é fator importante nesse processo. O IBEVAR alerta para esse cenário desde a última pesquisa realizada pelo Instituto sobre a inflação e que se comprovou nas pesquisas recentes que coletou dados no período de março de 2022 sobre inadimplência e projeção de vendas.

A questão é torcer para que a regra de andar sem máscara em locais públicos seja apenas o primeiro respiro para que o mercado realmente pegue um fôlego novo rumo a uma retomada eficaz e ágil. O varejo não aguenta mais viver à base de últimos suspiros de esperança.

Fonte: Redação IBEVAR