A guerra entre a Rússia e a Ucrânia chegou a 19 dias hoje e vemos seus efeitos começaram a ser sentidos no comércio do Brasil com o reflexo do aumento nos preços no mercado brasileiro e a suspensão das operações de algumas empresas na Rússia como forma de represália ao conflito.

A alta do petróleo, o aumento do câmbio, o encarecimento de produtos básicos como milho e trigo e a elevação do custo do frete para o transporte dos produtos, por conta do aumento do preço dos combustíveis, trazem reflexo direto para o bolso do consumidor brasileiro. Além disso, acompanhamos algumas marcas de varejo anunciaram sua decisão de fechar lojas e interromper as vendas online, como forma de condenação aos atos violentos da Rússia. Outros citaram preocupações de segurança como motivo para interromper temporariamente as vendas no país. Esses movimentos ocorrem em um momento em que os ricos consumidores russos estão comprando bens de luxo para manter seus patrimônios líquidos enquanto a economia russa afunda.

Impacto na receita

Algumas marcas de luxo ainda estão vendendo produtos para clientes russos por enquanto, incluindo as joalherias Cartier e Bulgari. Outros, como a Burberry, tomaram uma posição ao interromper o envio de pedidos para a Rússia. Essa é uma informação bastante dinâmica, que muda a todo momento, e caso você queira acompanhar os últimos movimentos sugiro que veja a lista atualizada divulgada pela universidade de Yale: https://som.yale.edu/story/2022/over-300-companies-have-withdrawn-russia-some-remain .

Sanções econômicas, juntamente com um crescente clamor mundial contra a guerra, também podem pressionar o governo russo a cessar fogo na Ucrânia. Mas não está claro quando isso ocorrerá. E, à medida que a guerra avança, alguns varejistas também alertam para o impacto que as condições podem ter em suas perspectivas de receita. Enquanto isso, analistas dizem que alguns desses fechamentos e paradas de vendas podem ter consequências nas vendas de curto prazo dos varejistas.

Operações suspensas

Na semana passada, várias empresas suspenderam vendas e operações na Rússia.

A primeira foi a Nike, que anunciou que “não pode garantir” o envio de pedidos para clientes da Rússia. “Como resultado, as compras de mercadorias no nike.com e no aplicativo da Nike estão temporariamente indisponíveis nesta região”, disse a empresa em seu site russo. Na quinta-feira, a empresa também fechou temporariamente todas as suas lojas na Rússia; A Nike tem cerca de 116 lojas no país e disse que não pode operar com segurança durante a crise em curso.

Enquanto isso, a Adidas anunciou que encerrou seu acordo de patrocínio com a liga de futebol da Rússia.

A Ikea é outra varejista notável que fechou todas as suas localizações na Rússia. A empresa também encerrou a produção na Rússia, bem como todas as suas atividades de importação e exportação da Rússia e da Bielorrússia. Em comunicado, a empresa reconheceu que a decisão afetará 15.000 funcionários da Ikea na região. “Garantimos estabilidade de emprego e renda para o futuro imediato”, disse a Ikea no comunicado.

A Apple também anunciou a suspensão das vendas na Rússia. Na terça-feira, a empresa disse que parou de vender produtos na região e oferecerá apenas serviços digitais selecionados lá, como Apple Pay e iTunes. Estima-se que as vendas de clientes russos tragam cerca de US$ 7 bilhões em vendas anuais para a Apple, representando cerca de 2% de sua receita total.

A varejista de moda rápida H&M anunciou na quarta-feira que fechou temporariamente todas as vendas na Rússia. O Grupo H&M atualmente opera 168 lojas na Rússia, de acordo com o site da empresa. Em um comunicado, a empresa disse que está “preocupada com os trágicos acontecimentos na Ucrânia” e fechou todas as lojas H&M na Ucrânia para a segurança de clientes e associados.

A marca de agasalhos Canada Goose fez um anúncio semelhante nesta semana, dizendo que cessará todas as vendas de atacado e comércio eletrônico na Rússia durante os ataques à Ucrânia. A Mango, com sede na Espanha, que tem 800 funcionários na Rússia, também anunciou que está encerrando temporariamente as operações lá.

Seguindo o exemplo

Enquanto isso, os varejistas de moda online estão seguindo o exemplo. Os marketplaces de moda do Reino Unido, Asos e Boohoo, suspenderam todos os pedidos online para a Rússia.

Essas decisões operacionais representam uma questão de gravidade e duração e que o impacto total ainda não pode ser determinado. Da perspectiva de um varejista, tentar determinar o impacto e navegar em águas globais cada vez mais desafiadoras adiciona mais perguntas e dúvidas no que já é um ambiente macro complicado.

Alguns varejistas já estão alertando os investidores de que o conflito Rússia-Ucrânia pode afetar seus resultados este ano.

Na quinta-feira, a Victoria’s Secret deu a entender que a invasão da Rússia poderia impactar negativamente suas margens devido a restrições adicionais na cadeia de suprimentos. A empresa citou “agitação global”, bem como o aumento dos preços e a incerteza do mercado como fatores que podem afetar seus negócios nos próximos meses.

A American Eagle Outfitters fez um aviso semelhante em sua teleconferência de resultados na quarta-feira. O diretor financeiro, Michael Mathias, citou mais inflação e problemas na cadeia de suprimentos como fatores que podem prejudicar as vendas da American Eagle no primeiro semestre de 2021. Ele também mencionou a situação da Ucrânia, dizendo que “neste cenário, estamos adotando uma visão cautelosa”.

Outros varejistas, como TJ Maxx e TJX, proprietário da Marshalls, já estão tomando decisões financeiras com base na volatilidade que acompanha a crise. Em um arquivamento da SEC na quinta-feira, o grupo off-price TJX anunciou planos de vender uma participação de 25% na Familia. A Familia é uma varejista de vestuário com sede na Europa com mais de 400 lojas na Rússia, nas quais a TJX investiu US$ 225 milhões em 2019.

Um nó no ecossistema

A Ucrânia se tornou não apenas um nó importante da cadeia de suprimentos, mas um centro de tecnologia onde muitas empresas de tecnologia de varejo e varejistas têm equipe técnica.

O fato é que, o varejo mal se recuperou de uma de suas maiores crises depois de uma pandemia de mais de 2 anos, e agora se vê novamente na posição de enfrentar mais um desafio global, recheado de incertezas e de prejuízos ao mercado.

Para muitas empresas, ainda é cedo para dizer o quanto a guerra Rússia-Ucrânia em andamento afetará as operações e a receita no varejo mundial.

Autor: Mauricio Andrade de Paula – Executivo e Líder do Comitê de Varejo Digital do IBEVAR

Fonte: Redação IBEVAR