O consumidor é um dos motores essenciais da economia de qualquer nação e também a razão de ser do varejo. Uma loja só existe quando há pessoas dispostas a consumir seus produtos. Não à toa, boa parte das palestras e discussões de todas as edições da NRF são sobre o comportamento do consumidor e como atrair clientes: big data, marketing, customização… no fim das contas, tudo gira em torno do que faz uma pessoa comprar um produto e o que a faz escolher determinada marca. Mas a palestra em questão, que foi ministrada por Willian Dudley, CEO do FED (Federal Reserve Bank) de Nova Iorque, abordou o tema de uma maneira diferente: ao analisar como evoluiu o comportamento do consumidor nos últimos 10 anos, foca em como seus gastos foram financiados.

O financiamento das famílias americanas mudou muito desde a Crise de 2008. O início do século XXI foi um período de grande expansão dos empréstimos das famílias, e especialmente dos empréstimos imobiliários, que refletiam uma expectativa de apreciação dos preços de imóveis muito alta e insustentável. Nessa situação, as famílias, principalmente as de baixa e média renda, se endividaram demais. Segundo Dudley, tais famílias são desproporcionalmente afetadas pela perda de empregos e tinham pouca experiência administrando dívidas, especialmente em períodos de “stress” financeiro, o que resultou em altos índices de inadimplência nessas classes e também na falência de vários pequenos negócios.

A partir da Crise, iniciou-se uma fase de grande desendividamento, onde as famílias tiveram que reequilibrar suas contas para pagar as dívidas em atraso. Essa fase durou 5 anos, até que os preços dos imóveis voltaram a subir de novo e o endividamento se estabilizou. No período recente, o crédito a famílias voltou a se expandir, mas de maneira mais saudável que no início do século. Hoje, as famílias estão mais cautelosas em relação às hipotecas, e as baixas taxas de juros americanas fazem com que os consumidores absorvam melhor quaisquer situações inesperadas.

Entender o consumo e financiamento das famílias pode ajudar a não ser pego de surpresa novamente, como aconteceu para muitos em 2008. Tendo começado em julho de 2009, o atual período de expansão econômica americana é o terceiro mais longo período de expansão desde a Segunda Guerra Mundial. Como diz Dudley: “as expansões econômicas não morrem de velhice”, mas será que a mais recente está para acabar?

Trump, Brexit… sofre quem tem que fazer qualquer tipo de previsão sobre o futuro da economia. Mas para o FED, entender o que acontece com as finanças das famílias é fundamental por três razões: para melhor perceber a força e resiliência da economia como um todo, para entender como o indivíduo reage às políticas e incentivos adotados e para dar suporte a projetos comunitários e missões de desenvolvimento.

É verdade que, ao fazer tal análise, o FED pensa na economia como um todo. Mas esses não seriam insides importantes para qualquer varejista? Resiliência da demanda, reação a incentivos e bem-estar social provavelmente são assuntos relevantes para todo empresário.

Fonte: Saint Paul Advisors | Bruno Pio