O mercado passou por uma série de transformações. Assistimos a uma intensificação do uso dos meios digitais pelos consumidores, a partir do e-commerce – o que confere maior comodidade aos clientes e transforma o papel dos empreendimentos no varejo e na logística.

O uso da tecnologia teve um forte impacto no setor de shopping centers, que vem se adaptando a uma nova realidade e ao novo perfil de consumo dos brasileiros.

A projeção dos especialistas é que os shoppings passem a assumir de forma cada vez mais intensa sua posição de “hub logístico”, em especial as redes de lojas mais estruturadas e com filiais em diversas cidades.

Em um futuro breve, veremos os estabelecimentos dos shoppings passarem por uma evolução para um formato de loja “showroom”, que é um espaço destinado aos mostruários, ou seja, apenas para a exibição e teste dos itens. Nela, as próprias marcas dos produtos terão envolvimento mais direto com o consumidor final. É quase um instrumento de marketing direto, sentindo os anseios do consumidor real.

Nova dinâmica de consumo

Portanto, os shoppings devem assumir uma nova dinâmica de consumo. Em razão da sua boa localização dentro das cidades e à diminuição dos custos logísticos, é provável que nem todas as vendas que acontecem nesses empreendimentos serão geradas nas lojas físicas, assim como nem todas as vendas geradas nos shoppings serão finalizadas lá.

Apesar de certa relutância do mercado brasileiro com o meio digital, o fechamento do comércio nas lojas físicas durante a pandemia impulsionou as vendas online, gerando transformação no mercado de varejo. E a consequência disso é que o perfil dos consumidores já não é mais o mesmo. Na atualidade, o uso da tecnologia traz profundas resultados no comportamento de compra. Hoje as pessoas fazem compras comparando os preços online, por exemplo.

Sem a imposição do fechamento do comércio durante a pandemia, é bem provável que esse movimento teria demorado mais para acontecer.  É certo que chegaria, mas em passos bem mais lentos. É possível afirmar que as limitações aceleraram movimentos que já estavam em curso, criando um cenário propicio para este tipo de iniciativa.

“Eu costumo dizer que as dificuldades são a mãe da criatividade. Essas mudanças do mercado vinham já acontecendo e sendo incentivada, inclusive, o que de uma forma natural, iria passar por um processo de avanço e agilidade em algum momento. Entretanto, diante dos obstáculos colocados com a pandemia e a impossibilidade de continuar com as operações físicas funcionando, o varejo se impôs a necessidade absoluta e imperativa de transformação e o fez em um tempo recorde”, avalia Cláudio Felisoni, Presidente do IBEVAR.

Variedade nos novos tempos

Vale salientar que as jornadas de compras encontram uma variedade de opções possíveis e o uso do shopping como “unidade de logística avançada” é apenas um dos muitos caminhos, tais como BOPIS, operações do tipo dark/ghost, criação de LogTechs, entre outros.

Mauricio Andrade, diretor do Comitê Varejo Digital do IBEVAR acredita que os shoppings não vão virar apenas um “hub logístico” e sim um “hub experiencial”, onde a logística/distribuição é apenas uma das dimensões desse novo conceito de conveniência pós-pandemia. Nesse contexto, o shopping será espaço de trabalho, de alimentação, de encontro, de lazer, de suporte logístico para receber/devolver/trocar. “As mudanças observadas no comportamento do consumidor em busca da conveniência 5.0 (que envolve uma gestão do tempo muito mais complexa do que antes) já demandam das operações de varejo/shopping esse novo papel. Porém, é importante salientar que nem tudo são flores e tudo ainda está em fase de muitos testes e grandes aprendizados”, avalia o executivo.

Cláudio Felisoni aponta os shoppings como um “equipamento urbano” de grande importância comercial e também social, devido à oferta de mix de lojas, e atrações que atendem à demanda dos diferentes perfis de consumidores em um único espaço. Ele também compartilha da análise de que esse espaço continuará sendo frequentado e não deixará de ter a sua importância no ecossistema da jornada de compra. “O consumidor utiliza-se hoje de ferramentas dos mais diferentes canais de atendimento. Ele pode optar por comprar pelo site e retirar na loja para ver o produto. Ou utilizar da praticidade de vivenciar a experiência de conhecer o produto na loja, mas fazer a compra via e-commerce e receber em casa. São diversas alternativas que hoje deixam de ser apenas meras possibilidades para ser quase que um requisito desses novos tempos”, comenta do presidente do IBEVAR.

Futuro não tão distante

É importante alertar que há muito o que ser revisto no modelo de negócios atual relacionado aos shoppings centers. Hoje os contratos são baseados em valores de aluguel, taxas de condomínio e marketing e valores variáveis sobre as vendas de forma geral. Mas fazendo a análise das projeções de um futuro não tão distante, ficamos diante de algumas reflexões muito pertinentes e que já precisam ser debatidas no momento presente. Como fica esse formato quando temos essa variável “on-line” ou “metaverso” incorporada? Esses novos movimentos/papéis se incorporam aos indicadores já existentes ou será necessário criar uma nova dinâmica comercial capaz de ser mais justa para todas as partes? Além disso, é necessário repensar a “urbanização” do espaço do shopping que precisará acomodar esses processos. “Sejam de terceiros que acessam a operação, como motoqueiros e motoristas de aplicativos, sejam clientes que querem entrar e sair com o menor atrito possível, mas também jornadas de consumidores que estarão fazendo outras coisas no espaço e aproveitarão a oportunidade para receber ou enviar mercadorias”, completa Maurício.

O consumidor está mais empoderado do que nunca e tem capacidade de comparar, simular e experimentar como nunca antes. “Os critérios de preço e prazo nunca estivaram tão em alta como atualmente – dentro do conceito amplo de conveniência de cada um. Esses pontos fazem parte da jornada do consumidor em qualquer canal que ele use, seja virtual no e-commerce ou nas lojas físicas dos espaços em shoppings ou outros locais. Qual será o futuro desses espaços vai depender muito de como o mercado irá alinhar todos os ensinamentos vividos nos últimos anos com tantos desafios e oportunidades”, finaliza o executivo.

Fonte: redação IBEVAR