Consumidor não antecipou compras como queriam as varejistas – descontos são tímidos

Apesar do esforço das varejistas em antecipar vendas da Black Friday, para espalhar a demanda ao longo deste mês, o consumidor pouco se mexeu. E isso aumenta a dependência das empresas para o desempenho desta semana, especialmente das próximas 48 horas.

As vendas de eletrônicos e itens de tecnologia cresceram em novembro, da primeira para a segunda e terceira semanas, mas dentro da média nos últimos meses, dizem consultorias.

O evento deste ano acontece amanhã, mas para evitar uma concentração excessiva de compras nesta semana, algumas redes decidiram fazer ofertas diárias, e informar ao cliente que as promoções não se repetiriam. Isso também seria uma forma de aumentar a migração de demanda das lojas físicas para o canal digital, reduzindo risco de aglomeração nos pontos de venda.

“O consumidor não caiu nessa porque ele anda muito ressabiado já com a Black Friday há alguns anos. Ele quer esperar. Então vai ficar muita coisa para esta semana, especialmente a partir de hoje, pelo que meus clientes têm dito. A sorte é que ninguém está fazendo loucuras, então não deve acontecer uma explosão de demanda amanhã”, diz Roberto Wajnsztok, CEO da Origin Consultoria.

Dados obtido pelo Valor junto à consultoria GfK Brasil, que recebe números semanais das grandes cadeias do setor, mostram que, na primeira semana de novembro, as vendas de eletroeletrônicos, eletrodomésticos e itens de informática cresceram 12%, abaixo do ritmo de setembro e outubro, quando as altas eram de cerca de 40% e 30%, respectivamente, sobre o ano anterior. Na segunda semana, a alta foi mais forte, de 38%, mas ainda dentro desse ritmo de expansão dos meses anteriores. “O varejo buscou antecipar alguma coisa, e montou ações nesse sentido, mas ao mesmo tempo, as lojas dizem que farão um megaevento na noite de hoje. Então as pessoas acabam esperando porque, na cabeça delas, a sexta será sempre melhor, mesmo que a loja diga que a promoção é diária”, diz Felipe Mendes, diretor da GfK. “A demanda mais forte agora é pelo ‘pacote home office’, ou seja, notebook, tablets e impressoras. Linha branca cresce, mas menos”.

A empresas fornecem dados à GfK e recebem relatórios gerais de desempenho, podendo comparar seus dados com a média do setor. As cadeias não têm acesso às informações de outros concorrentes.

A Compre & Confie, empresa do grupo Clearsale, diz que o mês começou fraco. “A primeira semana, já com as campanhas de Black Friday, ficou bem abaixo do que prevíamos, a segunda semana foi um pouquinho melhor e a terceira, levemente melhor que a segunda. A antecipação não vingou, o que joga boa parte da demanda prevista para hoje e amanhã”, disse André Dias, diretor executivo. A companhia projeta alta de 77% na venda na data apenas no digital (sem incluir lojas), para R$ 6,9 bilhões.

Desde o começo de novembro, B2W, Via Varejo e Magazine Luiza vêm destacando em redes sociais e na TV, as ofertas relâmpagos, para atrair clientes, e também começaram a anunciar os shows com artistas no YouTube na noite de hoje. Magazine Luiza terá shows com artistas na TV a cabo e no Youtube e redes socais – B2W e Via Varejo terão shows com artistas e influenciadores no YouTube e nas redes. O Valor apurou que essas empresas têm crescido acima do mercado em novembro. Via Varejo tem R$ 7 bilhões em estoque para Black Friday e Magazine Luiza, R$ 5 bilhões.

Esta Black Friday terá menos descontos, apesar da expectativa de crescimento. Menores descontos refletem o fato de o varejo estar com menos estoques, após falta de insumos no mercado, e também pela alta nos custos. Isso compromete as ações mais agressivas. Projeções de consultorias e associações de varejo estimam alta nas vendas no evento de 2% a 10% incluindo lojas físicas, e de 30% a 80% ao se considerar apenas o on-line.

Pesquisas mostram aumentos de preços às vésperas da Black Friday. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo (Ibevar) mostra uma elevação nos preços em todas as categorias analisadas na primeira quinzena de novembro, sendo 50% aumentos maiores e 40% reajustes médios. Segundo Mauricio Vargas, presidente do Reclame Aqui, os descontos médios de preços na Black Friday ficaram em 25% nos últimos três anos.

“Não teremos produtos com grandes ofertas de 70%, 80%, a não ser desova de itens parados nas lojas. E também não estimamos problemas sérios de logística, porque a pandemia obrigou as empresas a se prepararem. Mas acredito que promessas de entrega de pedidos em 24 ou 48 horas, como se vê em algumas lojas, não serão atendidas, o que pode elevar nível de reclamações neste ano”.

Fonte: Valor Econômico