O Estadão divulgou no final de 2021 pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo que projetou a queda na intenção de vendas para o Natal. Claudio Felisoni de Angelo, Presidente do Ibevar, analisou os resultados do estudo. 

A queda do poder de compra do brasileiro, corroído pela inflação de 10% no final de 2021, mais os juros e o desemprego elevados derrubaram as intenções de consumo no Natal, repetindo o movimento já registrado na Black Friday – a megaliquidação do final de novembro.

De 28 produtos pesquisados, entre alimentos e enfeites típicos, eletroeletrônicos, eletrodomésticos, móveis, itens de informática, telefone celular e artigos de vestuário, só cinco apresentaram aumento na intenção de compra em relação ao Natal de 2020, mostra uma pesquisa da plataforma V+ do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo (Ibevar). O levantamento foi feito com uso de algoritmos de inteligência artificial e análise semântica. Por meio dessas ferramentas, foram extraídos este mês dados de 100 mil manifestações espontâneas em redes sociais.

A pesquisa mostrou que o Natal iria registrar segunda queda seguida de vendas e que a efetivação de temporários deveria ser menor.

Entre os cinco produtos que registraram aumento da intenção de compra, estão forno de micro-ondas (3%), drones (31,2%), jogos eletrônicos (42%), consoles de videogames (70%) e panelas elétricas (270%).

Os 23 itens restantes tiveram registros de queda de até 40% na intenção de consumo, caso de telefone celular e smartphone, seguido por fone de ouvido (38,2%), bicicleta (33,8%), TV (30,1%) e tablet (29,5%). Os dados coletados revelam um recuo de, em média, 24% na intenção de compra para os 28 itens. É a maior retração observada na pesquisa de intenção de consumo de Natal desde 2016 (7%). No ano passado, a queda havia sido de 5% ante o Natal de 2019.

“Não é surpresa que o Natal de 2021 foi muito ruim, assim como foi a Black Friday”, afirma o economista e presidente do Ibevar, Claudio Felisoni de Angelo. Ele argumenta que a conjuntura é desfavorável às compras, com 13,5 milhões de desempregados no País, juros no comércio de 80% ao ano, inflação na casa de 10%, incertezas e ambiente político conturbado.

Na Black Friday que ocorreu em novembro de 2021, o tombo no consumo foi bem maior. O mesmo tipo de levantamento apontou queda de 32% na intenção de compra para a data, comparada ao ano anterior. Essa percepção foi confirmada, posteriormente, por dados da Eletros, associação que reúne a indústria de eletroeletrônicos, que mostraram recuo de até 30% nas vendas de seus produtos.

Na análise de Felisoni, além dos fatores macroeconômicos negativos para o consumo, muitos bens duráveis foram renovados recentemente, como celulares e eletrodomésticos. Portanto, não há um novo apelo para que sejam trocados.

No caso dos cinco produtos que ainda despertaram interesse de compra neste Natal, o economista observa que eles refletem mudanças de hábitos provocadas pelo isolamento social imposto pela pandemia. “As pessoas passaram a cozinhar mais em casa e ter atividades de lazer, por isso o maior interesse pela panela elétrica e console de jogos.”

Fonte: Estadão