Quadros de depressão, ansiedade, Burnout e outras síndromes estão cada vez mais comuns. E isso tem influenciado o posicionamento das empresas diante dessas situações que podem ocorrer. Mas como os RHs enxergam soluções nesses casos?

O IBEVAR conversou com Alexandre Ayres, sócio fundador da MindSelf e Izabela Mioto, Sócia co-fundadora da Arquitetura RH, para entender esse movimento no universo corporativo.

Izabela Mioto diz que esses casos sempre ocorreram e agora estão cada vez mais frequentes! “O conceito de presenteismo tem surgido. Isso é quando a pessoa está presente, mas sem condições emocionais para produzir adequadamente, isso está incorporado no dia a dia e é muito difícil ser mensurado!”, completa ela.

Izabela ainda completa que é muito importante falar em saúde mental no ambiente de trabalho. “Os números falam por si. Pós pandemia, penso que existem muitas pessoas que sentiram medo de perder o emprego e acabaram por não compartilhar o que estavam sentindo. “Esse estado emocional acaba por gerar uma queda na sua performance e engajamento em relação ao trabalho que realiza, pois gera ansiedade”, comenta a executiva.

Ambiente psicologicamente saudável

Ela enfatiza a frase de Frederic Laloux, autor do Best Seller Reinventando as Organizações. “A nossa forma de tentar lidar com os problemas atuais das organizações muitas vezes parece piorar as coisas, não melhorar”. E afirma concordar com Laloux. Izabela avalia que muitas empresas ainda não compreenderam a importância do diálogo, do ‘abrir espaço’ para que as pessoas possam falar do que estão sentindo. Quando existe um ambiente psicologicamente saudável que faz valer a integralidade, muitas pessoas conseguem se reorganizar para levar adiante seus propósitos. “Estamos carentes de bons vínculos, pois esses vínculos nos fortalecem. Porém, para nos vincularmos, precisamos sentir que somos acolhidos. Acolhidos nos nossos medos, nas nossas incertezas e incapacidades. Precisamos acolher a humanidade que nos habita e que eventos externos podem nos desestabilizar”, diz Izabela Mioto.

Como teoriza o sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, vivemos tempos líquidos em que perdemos o espírito de comunidade, vivendo a sociedade em rede. “Gosto quando ele cita que no mundo interligado, as interações sociais ganharam a aparência de brinquedos de crianças rápidas”, menciona Izabela. O sociólogo enfatiza que perdemos o espírito de comunidade e que para a rede, fazer o enfrentamento das situações cara a cara, olho no olho, acaba por ser um evento traumático. “E assim, então, nós conectamos e desconectamos. E os nossos julgamentos ditam a regra – você gosta do azul, eu também, está conectado, não gosta do vermelho, então eu te desconecto. As relações acabam se tornando cada vez mais superficiais e com menor possibilidades de diálogos construtivos”, afirma a executiva.

Chamando Platão para a conversa

É possível convidar Platão também para esse debate, afinal, ele nos convidou a pensar que o homem realmente sábio é aquele capaz de observar, tanto o fenômeno, quanto a sua essência. Se não chegarmos à essência, corremos o risco de ficarmos com nossas visões sempre muito “enviesadas” por crenças que podem ser limitantes ou mesmo por paradigmas que fecham o canal de comunicação para visitarmos outras perspectivas. Para Izabela Mioto, agora é momento de acolher mais e julgar menos. “Precisamos estar abertos a ouvir, a tecer a verdadeira rede que nos levará para tempos melhores, uma rede com seres humanos, conectados e acolhedores de suas potências e vulnerabilidades”, diz ela e completa: “Momentos desafiadores nos pedem mais atenção e empenho para que possamos superá-los da melhor maneira possível”.

No início da pandemia, foi possível perceber atitudes que se tornaram uma ‘bola de neve’. Por um lado, líderes pressionados por resultados, mas em um contexto que não tinham familiaridade – fazer a gestão das pessoas remotamente. Inúmeras reuniões eram agendadas, fazendo com que a carga de trabalho e a sensação de controle aumentasse. Por outro lado, colaboradores pressionados pelas demandas pessoais e profissionais e ainda com medo de perder o emprego. Uma hora essa pressão vem à tona.

O que mudou no cenário?

O trabalho remoto que antes era uma pauta nas reuniões e incorporado em poucas empresas ou apenas timidamente, passou a ser essencial. Novas maneiras precisaram ser desvendadas. E como qualquer mudança, traz instabilidades. Outro ponto que mudou, a necessidade de lideranças cada vez mais humanizadas para lidar com as questões emocionais das pessoas. Talvez tenha sido nesse momento que as empresas perceberam que deveriam investir mais em seus líderes.

Em um estudo enfatizado relatório “Estado de Força de trabalho global” – detalhamento exaustivo de dados acumulados por 27 milhões de colaboradores em 2,5 unidades de trabalho em 155 países, trouxe que apenas 15% dos funcionários estão realmente engajados. Dos mais desengajados, estão ativamente desengajados e isso custa 34% do seu salário anual para a organização e que 450 bilhões é o custo da falta de engajamento no mundo e que, 70% da variação na falta do envolvimento de uma equipe está relacionada ao seu gerenciamento. Não tem mais outro caminho a não ser investir em lideranças.

Cultura de bem-estar

Pensando nesse cenário, Alexandre Ayres diz que a cultura de bem-estar deveria ser uma realidade nas empresas brasileiras, mas esse conceito ainda caminha de forma muito tímida. A maioria das grandes corporações já tem pelo menos um básico com alguns benefícios, como exemplo: plano de saúde, benefícios flexíveis, dias de folga além das férias, massagem, yoga, e mais recentemente programas de meditação e mindfulness. “Para ser uma cultura precisaria ter o apoio e o conhecimento de todos sobre os programas e benefícios e ainda estamos distantes disso”, comenta ele. As empresas ainda têm uma grande dificuldade em comunicar seus programas. O programa não pode ser algo do RH, ou da área de saúde corporativa, deve ser algo natural no dia a dia e deveria ser incentivado pelos líderes para que as equipes se sintam à vontade para utilizar os benefícios. “Não adianta incluir sessão de meditação semanal na empresa se na hora da meditação seu chefe agenda uma reunião no mesmo horário. O que você acha que o colaborador vai priorizar?”, avalia o executivo.

Izabela Mioto concorda com Alexandre nesse ponto. Para ser cultura, tem que estar no ‘DNA’ da organização. “O bem-estar deveria vir em primeiro lugar, pois pessoas que estão bem, produzem mais. Existem várias pesquisas que comprovam isso. O que sabemos é que muitas empresas já têm olhado e realizado iniciativas nesse sentido, mas para mim, o ponto principal é mobilizar cada colaborador e líder para que compreenda o porquê dessas ações”, enfatiza Izabela.

E é importante ressaltar que não devem ser ações que servem ao marketing, mas essencialmente a uma demanda humana essencial a esses novos tempos. Sendo assim, para que essa cultura seja uma realidade, é preciso trazer significado e compreensão dos resultados que as práticas de bem-estar trazem, em primeiro lugar para o indivíduo e consequentemente, para as organizações, por meio de indicadores sustentáveis.

Alto nível de potencial

Por que precisamos falar de saúde mental no trabalho? Porque se tornou tão importante termos mais agilidade emocional? Em que a dinâmica do mundo atual nos desafia?

Esse e outros assuntos serão abordados no Workshop 100% Online ao vivo “Como obter segurança psicológica e chegar ao seu nível alto de potencial”, Com Izabela Mioto. Dias 01 e 08/07, das 8h às 11h.  Participe desse evento dinâmico, prático e atual. Saiba mais e inscreva-se.

Fonte: Redação IBEVAR

Referências

International Stress Management Association – ISMA-BR. Trabalho, stress e saúde: prevenindo o burnout – da teoria à ação. [cited 2010 Dec 2]. Available from: http://www.ismabrasil.com.br/tpls/147.asp?idPagina= 49&idPg=601&mAb=n

Zygmunt Bauman – sobre os laços humanos, redes sociais, liberdade e segurança – https://www.youtube.com/watch?v=LcHTeDNIarU

International Stress Management Association – ISMA-BR. Trabalho, stress e saúde: prevenindo o burnout – da teoria à ação. [cited 2010 Dec 2]. Available from: http://www.ismabrasil.com.br/tpls/147.asp?idPagina= 49&idPg=601&mAb=n

Zygmunt Bauman – sobre os laços humanos, redes sociais, liberdade e segurança – https://www.youtube.com/watch?v=LcHTeDNIarU