Descontos (e alta prévia de preços) começaram antes mesmo da data oficial do evento. Saiba o melhor momento para comprar celular, eletrodomésticos e outros

SÃO PAULO — A temporada de compras marcada pela Black Friday 2020 (27 de novembro) e a Cyber Monday 2020 (30 de novembro) cria grandes expectativas entre os brasileiros. Um levantamento da Provokers/Google mostrou que seis em cada dez consumidores do país declararam que iriam aguardar a Black Friday para comprar um produto que pretendiam adquirir nos próximos seis meses.

Os eletrônicos são a categoria mais desejada na sexta-feira de descontos. Os produtos mais buscados pelos brasileiros no evento, de acordo com a pesquisa, devem continuar sendo celulares, que estão nos planos de compras de 38% dos entrevistados. Eletrodomésticos aparecem como principal item de desejo para 30%. Também no campo da tecnologia, produtos de informática são bastante requisitados pelos brasileiros (28%).

Mas a Black Friday 2020 é o melhor momento para comprar eletrônicos? Ou vale a pena esperar a Cyber Monday 2020? Ou, ainda, deixar essas compras para o Natal? O InfoMoney ouviu especialistas para estimar os descontos em eletrônicos para cada uma das datas e avaliar a melhor época de compra.

Black Friday 2020 será a maior de todas?

Dados da Ebit/Nielsen mostram que as vendas na Black Friday 2020 devem crescer 27% em relação a 2019. Já a Associação Brasileira de E-commerce (ABComm) espera que a alta fique em torno de 77% na base anual. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a Black Friday 2020 deve movimentar um recorde de R$ 3,74 bilhões em vendas, mais de R$ 1 bilhão apenas no segmento de eletroeletrônicos e utilidades domésticas.

“A maior Black Friday do mundo já aconteceu e serve como uma referência para as próximas datas de compras com desconto. Foi o Dia dos Solteiros”, afirma Ulysses Reis, coordenador do MBA em Varejo da Fundação Getúlio Vargas (FGV). No famoso evento de compras chinês, que aconteceu no dia 11 de novembro, o Alibaba faturou US$ 75 bilhões. Os resultados da data por aqui foram melhores do que em 2019. “Acho quase certo que teremos um aumento significativo em compras na Black Friday 2020.”

Porém, alguns fatores jogam contra vendas maiores do que as vistas em 2019. “2020 é um ano absolutamente atípico. Temos ainda uma fragilização da demanda, puxada pelo desemprego ou pela insegurança de quem conseguiu manter seu trabalho. Um volume de pagamentos a trabalhadores menor deve levar a uma Black Friday mais fraca neste ano”, afirma Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar).

O InfoMoney já falou sobre pontos que jogam a favor ou contra uma Black Friday recorde em 2020. Julia Rueff, diretora de marketplace do Mercado Livre no Brasil, pondera que a contenção de gastos ao longo do ano pode dar um fôlego ao evento. “Existe um sentimento de demanda reprimida, a Black Friday aparece em um momento de retomada de alguns serviços e essa demanda reprimida é de compra mesmo. Entendemos que isso deve afetar e impulsionar os números desta edição.”

Já Michael Viriato, professor de finanças do Insper, considera que a economia foi duramente afetada. “Vários preços subiram e a renda caiu. Produtos de alimentação ficaram mais caros e comprometem o orçamento de grande parte das famílias. Adicionalmente, o desemprego está mais alto e a confiança do consumidor está menor”, avaliou. “Os números [do e-commerce] não serão altos porque o brasileiro vai consumir mais do que ano passado, mas, sim, porque para muitos a venda online é a única forma de consumir.”

Black Friday ou “Black Fraude”?
Nesse cenário, como ficam os descontos? Muitas varejistas já começaram a divulgar ofertas. Uma coleta de preços feita pela CNC nos 40 dias encerrados em 15 de novembro mostrou que os produtos com mais chances de oferecer descontos atrativos na Black Friday 2020 são os consoles de videogame (19% de queda no preço), os notebooks (17% de queda) e os jogos para computador (14% de queda).

Mas talvez não seja tão fácil encontrar valores atrativos na data. “Bons descontos têm aparecido, mas a pandemia coloca um cenário incerto”, diz Fabio Carneiro, diretor comercial e de atendimento da Promobit. “Tanto a valorização do dólar quanto a demanda vista ao longo de todo o ano pressionam os preços dos eletrônicos. Por exemplo, o preço de monitores aumentou ao longo do ano e agora pode estar com desconto, mas é difícil dizer se está valendo menos do que antes da pandemia.”

Outro estudo, desta vez do Ibevar, mostrou que algumas categorias de produtos tiveram aumento de até 70% no preço de junho a novembro de 2020. Os maiores reajustes de preços ocorreram na primeira quinzena de novembro. Freezers (+63,5%), câmeras e filmadoras (+43,7%), micro-ondas (+46%) e ventiladores (+46,3%) lideram os aumentos de preço nessa quinzena.

“Existem empresas que são sérias e respeitam o conceito de promoção. As oportunidades continuam, desde que você faça um trabalho anterior de levantar e comparar preços (veremos como fazer a checagem de promoções mais abaixo). Não compre apenas pela ideia de que existem promoções generalizadas”, recomenda Felisoni de Angelo. “Também considere que não se deve comprometer mais de um terço da sua renda com dívidas. Em tempos de instabilidade na economia e na saúde, talvez seja bom comprometer ainda menos do que isso.”

De acordo com a Promobit, o volume histórico de ofertas para a categoria de eletrônicos é atrativo na data – mas é preciso ficar de olho no percentual de desconto. A comunidade de descontos comparou a quantidade de ofertas em eletrônicos na Black Friday 2019 e em um dia comum (primeira sexta-feira de novembro de 2019).

A Promobit olha para o valor que o próprio site coloca antes e depois de cada oferta. “Alguns e-commerces sobem o preço para dar destaque, mas na média fica bem parecido. A maioria não faz isso”, afirma a plataforma. Os descontos em dias normais ainda são significativos porque a menor quantidade de ofertas reflete uma rotação constante no estoque de eletrônicos. “São muitos modelos de produtos em cada segmento de eletrônicos. Em celulares, por exemplo, o Samsung Galaxy A51 pode aparecer em promoção em um certo dia. No outro, o A71”. Veja:

Não tenha expectativas de grandes descontos, alerta Carneiro. “Aquele cenário de 80%, 90% de desconto que o brasileiro importou da data americana pode acontecer em algumas ofertas, usadas pelos lojistas para atrair tráfego ao site. Mas isso não vai acontecer em todos os produtos e, se você for esperar essa quantidade de desconto, principalmente em um lançamento, a chance é grande de não encontrar”, diz o diretor de comercial e de atendimento da Promobit. “Tenha ciência de qual o melhor produto para você e quanto vale pagar por ele. Com essas variáveis mapeadas, é maior a chance de satisfação na Black Friday 2020.”

Vale a pena esperar pela Cyber Monday?
A Cyber Monday acontece na segunda-feira posterior à Black Friday. A data é focada nos produtos que sobraram, especialmente os eletrônicos. “Essa é uma oportunidade interessante, porque o preço pode baixar ainda mais. Se não achar o valor que queria na sexta-feira, pode ser interessante acompanhar a segunda-feira”, diz Reis.

Segundo o presidente do Ibevar, uma Black Friday 2020 mais fraca do que o esperado pode gerar mais ofertas na Cyber Monday 2020. “Em produtos antigos, os chamados fora de linha, as ofertas tendem a ser mais agressivas e a continuar para além da Black Friday”, diz Felisoni de Angelo.

A Promobit também enxerga chance de boas promoções. Algumas varejistas ajustam sua precificação com base em estoque. Assim, um produto que não teve as vendas esperadas na Black Friday poderia ter os preços reduzidos na Cyber Monday como forma de bater o volume de venda esperado.

Mesmo assim, as ofertas tradicionalmente são mais numerosas na Black Friday do que na Cyber Monday. “Quem esperar desconto em um produto específico corre o risco de acabarem os estoques”, diz Carneiro.

A Promobit também comparou a quantidade de ofertas reais em eletrônicos na Cyber Monday 2019 e em um dia comum (primeira segunda-feira de novembro de 2019). Houve menos ofertas do que na Black Friday, mas os descontos foram maiores em algumas categorias. Veja:

Vale a pena esperar pelo Natal?
Segundo Reis, existe um movimento de usar a Black Friday 2020 para antecipar as compras de Natal. “Acontece justamente porque os preços costumam subir no final do ano. Este Natal terá o agravante do aumento do dólar e da falta de muitos produtos nas lojas. Imagino que os preços não serão tão bons.”

A Promobit comparou a quantidade de ofertas reais em eletrônicos durante o final de novembro (sexta-feira da Black Friday 2019 até a segunda-feira da Cyber Monday 2019) e durante o final de dezembro (dias 19 até 23). As ofertas costumam ser bem menos numerosas em dezembro, mas é possível encontrar descontos dependendo do produto. Veja:

Como saber se descontos são verdadeiros?
Uma ótima maneira de checar o que vale ou não a pena é acompanhar sites que comparam valores e mostram os melhores descontos. Para ajudar os consumidores que querem fugir da “Black Fraude”, o InfoMoney fez um levantamento dos principais buscadores e agregadores de descontos, que permitem checar se um desconto é real usando a base histórica de preços e ver onde estão as melhores ofertas dentre as diferentes varejistas.

Embora essas páginas possam ajudar a conseguir ofertas melhores, é importante dizer que o próprio consumidor deve ter uma avaliação crítica de toda promoção que encontrar na internet e evitar fazer compras de primeira, ao se encantar por um possível bom desconto, sem fazer uma busca mais apurada.

Reis, da FGV, dá outras dicas para quem pretende consumir na data. “Liste o que você irá comprar e depois verifique sites com a evolução de preços nos últimos seis meses. Não vá diretamente aos comércios eletrônicos, cedendo a compras de impulso”, recomenda o coordenador do MBA em Varejo. Confira o valor do frete, as políticas de entrega e de devolução e a segurança do e-commerce. O InfoMoney já elencou quais são os golpes mais comuns na Black Friday de 2020, mostrando como evitá-los e o que fazer caso você seja uma vítima deles.

Fonte: InfoMoney