O conceito de antifragilidade tem ganho destaque e podemos afirmar que está além da resiliência. A pessoa resiliente resiste às colisões e permanece igual, já o antifrágil fica cada vez melhor e adora a incerteza, tendo inclusive um certo amor pelos erros.

Do que se trata ser antifrágil e qual a importância disso em nossas vidas? Vamos começar pelo contexto, pelos desafios contemporâneos.

Vivemos em tempos de muitas mudanças, na verdade as mudanças sempre aconteceram, sempre fizeram parte de nossas vidas, o que é diferente nos dias de hoje, é a quantidade e a velocidade das mudanças, afinal neste “novo mundo” as coisas se comportam de maneira totalmente instável, onde a volatilidade é sua natureza essencial e nada permanece em seu estado de origem por muito tempo. Quais os efeitos dessa volatilidade volumosa e frequente?

É que a volatilidade gera um ambiente de incerteza e a incerteza traz uma complexidade para o entendimento e a tomada de decisão em função de tantas variáveis, que resultam em muitas e diferentes interpretações sobre ocorrências advindas dessas mudanças.

Contexto do mundo VUCA 

Desse contexto é que surgiu, na década de 90, o denominado Mundo VUCA, um acrônimo para Volatilidade, Incerteza (Uncertainty), Complexidade e Ambiguidade, com o objetivo de explicar uma nova dinâmica de mundo em um cenário pós Guerra Fria, marcado pela instabilidade, insegurança, transformações rápidas e forte presença tecnológica.

Mais recentemente, a partir de avanços tecnológicos potencializados pela pandemia, faz surgir um novo conceito –  Mundo BANI, marcando a passagem de volatilidade para agilidade, da incerteza para ansiedade, da complexidade para a não linearidade e da ambiguidade para a incompreensão.

Esses conceitos de mundo trazem importantes desafios para pessoas e negócios, afinal estamos vivendo uma era de grandes revoluções simultâneas (culturais, econômicas, tecnológicas e outras) que requerem comportamentos e padrões diferentes em relação à previsibilidade, à gestão de mudança, à adaptabilidade, e tudo isso, com uma forte necessidade de agilidade em função da frequência e velocidade dessas mudanças.

Durante a história, pessoas receberam em casa, na escola e até mesmo na sociedade ensinamentos onde a ordem é uma coisa boa. Fomos treinados e preparados para isso e assim evoluímos, buscando sempre estabelecer hierarquias, leis, políticas e processos, tudo para colocar a devida ordem nas coisas.

Perfil comportamental DISC

Este padrão fez com que uma parcela considerável de pessoas tenham uma certa  resistência a mudanças, pois as tiram da zona de conforto, gerando uma necessidade de adaptação, de aprendizado, ou seja, podem perder a notoriedade do saber, da experiência em determinado assunto.

Além disso, podem perder também, boa parte da certa “ordem” estabelecida, o que é muito valorizado, por exemplo, por pessoas com um perfil de conformidade, descrito em um notório teste de perfil comportamental denominado de DISC.

Esse teste descreve que pessoas com o perfil da Conformidade dão ênfase na qualidade, na precisão, organização e competência. São pessoas cautelosas e preocupadas. Logo, o Mundo VUCA/BANI, pode não ser o mundo ideal para essas pessoas.

Para esse tipo de perfil comportamental, a mudança tende a gerar um impacto negativo, o que pode fazer com que reajam mal aos impactos da volatilidade.

Mas não é somente as mudanças que podem gerar impactos nas nossas vidas, eventos inesperados também podem ser bastante desafiadores e é aí que entra o Taleb (Nassim Nicholas Taleb), autor do livro Antifrágil – coisas que se beneficiam com o caos. Aliás, Taleb também é autor do livro A Lógica do Cisne Negro, onde descreve o Cisne Negro como um evento que reúne três características principais: é altamente improvável, produz um enorme impacto e, depois que acontece, inventamos uma explicação que o faça parecer menos aleatório e mais previsível do que de fato é.

Segundo Taleb, o problema do Cisne Negro está na impossibilidade de calcular riscos de acontecimentos raros, com consequências importantes. Vivemos recentemente o acontecimento desse evento “raro”, inesperado – a pandemia da COVID 19, com consequências importantes em todo o mundo. A grande questão é como lidar bem com as mudanças, como lidar bem, ou pelo sair bem, dos eventos Cisnes Negros?

Antifrágil – significado e importância na vida

No livro ANTIFRÁGIL, Taleb descreve: “…algumas coisas se beneficiam com os impactos; elas prosperam e crescem quando são expostas à volatilidade, à aleatoriedade, à desordem e ao estresse. A antifragilidade está além da resiliência ou robustez. O resiliente resiste às colisões e permanece igual; o antifrágil fica cada vez melhor e adora a aleatoriedade, a incerteza, o que significa – decisivamente – amor pelos erros (certa classe de erros)”.

Segundo Taleb o mundo moderno pode até estar se aprimorando em conhecimento tecnológico, mas paradoxalmente, vem tornando as coisas muito mais imprevisíveis e a necessidade de previsibilidade, de controle e ordem, mesmo que isso não seja uma coisa totalmente possível, está muito associada à fragilidade.

Nassim Taleb define fragilidade como aquilo que não gosta de volatilidade, não gosta de aleatoriedade, de incerteza, de desordem, de erros, de estresse, etc. A grande questão, afirma o autor, é que o mundo em que vivemos é muito mais incerto, aleatório e imprevisível do que as pessoas costumam acreditar, logo precisamos aprender a lidar bem com todo esse contexto, afinal, o que nos trouxe até aqui não tem a capacidade e habilidade de nos levar adiante.

A melhor estratégia não é tentar prever os eventos que provocam mudanças significativas e sim aprender a viver em um mundo imprevisível.

No livro Breve História das Finanças, o autor Rodolfo Olivo, faz, no capítulo 15, denominado de “Como ganhar dinheiro com o que você não sabe”, uma excelente interpretação do tema Antifrágil com um enfoque em finanças, onde segundo ele, esse mundo imprevisível traz impactos enormes para as finanças, por exemplo para a hipótese de um mercado eficiente que contempla um conjunto de agentes de mercado, buscando traçar todos os cenários e possibilidades, incorporando toda a informação disponível levando os preços a estarem sempre certos.

Acontece que os eventos de Cisne Negro podem ser raros, mas não de probabilidade zero. Para um mercado eficiente, os Cisnes Negros não podem ser considerados, pois quando ocorrem, em função da mudança brusca, tendem a tornar os preços irracionais. A fonte dessa irracionalidade foi a incapacidade de antecipação desse cenário pelo mercado.

Sofrer um impacto

Rodolfo Olivo discorre que Taleb propõe uma solução para os investidores que seria, ao invés de tentar prever Cisnes Negros, permitir se expor aos Cisnes Negros positivos e se proteger dos Cisnes Negos negativos, denominada por Taleb de estratégia Barbell, que visa criar antifragilidade para a carteira de investimentos.

Para entender melhor, no contexto de investimentos, vamos considerar a Tríade apresentada por Taleb no seu livro Antifrágil. O Frágil ao sofrer um impacto deteriora, o Robusto, após ser impactado permanece como era e o Antifrágil, que após um determinado impacto, melhora, evolui.

O exemplo de uma forma frágil de se investir são os pequenos investidores Day Traders, aqueles que buscam oportunidades fazendo operações de compra e venda de curtíssimo prazo de diversos ativos financeiros.

O problema é que esses pequenos investidores competem com mega investidores que contam com bilhões de dólares, sistemas avançadíssimos de informática, algoritmos, conexões ultra rápidas com as bolsas e etc. Logo, a chance desses pequenos investidores é mínima.

Sendo assim, uma grande assimetria negativa, como descreve Taleb. Para se ter uma ideia, uma pesquisa feita no Brasil apontou que 97% dos Day Traders perdem dinheiro.

Já um exemplo para o termo Robusto, citado na Tríade por Nassim Taleb como simétrico, seria uma aposta com moedas, um jogo de Cara ou Coroa.

Com uma moeda honesta, as chances são iguais, de 50% para cada possibilidade, logo a tendência, em se jogando por período de tempo maior, é terminar com o mesmo valor que começou. Um investimento robusto caracteriza-se por um investimento de baixíssimo risco e também de baixíssimos ou de nenhum ganho.

Assimetria positiva

Os investimentos na Bolsa de Valores em longo prazo possuem uma assimetria positiva, podendo ser antifrágeis, pois possuem responsabilidade limitada, ou seja, o investidor perde no máximo 100% do que investiu e não há um limite para os ganhos com as ações que investiu.

Para efetivar essa assimetria positiva, ou seja, contar com uma carteira de investimento antifrágil, é fundamental haver uma diversificação no portfólio de ações. Taleb recomenda a estratégia Barbell, uma metáfora de barra de levantamento de peso, mas com pesos diferentes em cada lado da barra.

Do lado com o maior peso na barra, os investimentos mais seguros, resistentes ao Cisne Negro negativo. Taleb recomenda 90% das ações neste lado da barra. Já no lado com o peso menor, investimentos mais agressivos, de alto risco, mas com possibilidade de se tornarem Cisne Negros positivos, ações podem valorizar até 800%.

Um exemplo desse tipo de ação aqui no Brasil foram as ações do Magazine Luiza que em 2015, o valor das ações era de 200 milhões e seis anos depois seu valor de mercado era de 160 bilhões! A diversificação permite ampliar a chance ou a sorte de se encontrar ações disruptivas que se caracterizam como Cisnes Negros positivos.

modelos financeiros de investimento tradicionais

Considerando a Tríade de Taleb, em termos financeiros (investimentos), Frágil são investimentos que geram perda de dinheiro, Robusto para investimentos com baixíssimo ou nenhum ganho e Antifrágil, para uma carteira de investimentos com ganhos importantes ou até surpreendentes.

Rodolfo Olivo encerra o capítulo do seu livro chamando a atenção dos investidores que utilizam modelos financeiros de investimento tradicionais, pois estes não estão adaptados a este novo mundo, onde a incerteza e imprevisibilidade estão cada vez mais presentes.

É fácil cair na tentação de ganhos fáceis e de curto prazo, mas as probabilidades estão absurdamente contra o investidor nesta situação. O investidor disciplinado, que diversifica sua carteira e faz o uso da antifragilidade trabalha com as probabilidades a seu favor e constrói algo relevante no longo prazo.

Texto escrito por professor Guilherme Carvalho, Tiago Berno  e Rodolfo Leandro de Faria Olivo 

Guilherme Carvalho é Mestrando em Gestão de Negócios pela FIA Business School e professor da FIA LabFin-Provar.

Tiago Berno é Mestrando em Gestão de Negócios pela FIA Business School e Diretor Executivo na Multicoisas Franquias.

Rodolfo Leandro de Faria Olivo é PhD em Administração pela FEA-USP e professor da FIA Business School.

Fonte: Redação IBEVAR