Muito se fala e se escreve sobre o jeito Disney de encantar os clientes. Os efeitos do mantra atribuído a Walt Disney e detalhado no livro de Capodagly e Jackson, qual seja, “sonhar, acreditar, ousar e fazer”, é ainda perceptível em produtos e serviços ofertados pela empresa e vivenciados por consumidores em situações tais como uma sessão de um filme ou uma visita a um dos seus parques temáticos.

O que começou com o Mickey Mouse é, hoje, um conglomerado que envolve, além da supra-mencionada produção de filmes e parques, outros negócios tais como resorts, cruzeiros, publicações, brinquedos, roupas, entre outros.

Se essas informações não são, necessariamente, desconhecidas do público, há um aspecto em particular que, se sabido, não era, até o momento, amplamente debatido.

Trata-se do sistema de gestão das terras ocupadas pela Disney na Flórida, inseridas no denominado Reedy Creek Improvement District, território de mais de 101 km quadrados, que possui estrutura administrativa autônoma.

Financiamento das operações

Na prática, isso significa que os dezenove proprietários de terrenos responsáveis pelo distrito, dentre eles a Disney, a quem pertence 67% da área, são responsáveis por supervisionar o uso da terra, pela sua proteção ambiental, por fornecer serviços públicos essenciais como, por exemplo, proteção contra incêndio, pelos serviços médicos de emergência, pela produção, tratamento, armazenamento, bombeamento e distribuição de água potável, pela distribuição de água recuperada, pelos sistemas de água quente e gelada, serviços de tratamento de esgoto, drenagem e controle de enchentes, geração e distribuição de energia elétrica e coleta e destinação de resíduos sólidos e recicláveis, por regular o código EPCOT de edificações e operar e manter todas as estradas e pontes públicas.

O financiamento das operações do distrito e os serviços e melhorias de capital é oriundo da cobrança de impostos e taxas cobradas dos proprietários e arrendatários, da emissão de títulos e da receita de serviços públicos.

Essa independência permitiu a criação de uma implantação urbanística alinhada com as necessidades das empresas instaladas no local o que, por sua vez, deve incluir a percepção de valor por parte dos consumidores ou dos turistas que o visitam.

No entanto, uma recente desavença política ameaça desfazer o distrito e devolver à administração pública a gestão da área. Se isso efetivamente acontecer, a respectiva responsabilidade financeira também sai das mãos dos atuais gestores, criando incertezas que, até o momento, não foram equacionadas.

Cenário futuro

Em meio ao cenário descrito, uma questão importante a ser pensada versa acerca da influência da nova direção sobre as variáveis de sucesso das organizações lá instaladas.

Se tomarmos como base o conceito de que, assim como na ambientação de uma loja ou shopping, a implantação urbanística influencia na qualidade da experiência dos consumidores, deve-se avaliar a possibilidade de que mudanças promovidas pela nova gestão afetem o nível de atratividade do local..

Se parte do sonho Disney se tornando realidade depende também do entorno dos parques, vale monitorar o que o futuro reserva para o resultado da empresa.

Texto escrito Por David Douek

David Douek é mestre e doutorando em administração pela FEA USP, arquiteto e urbanista pela FAU USP e administrador de empresas pelo Mackenzie. Fundou e dirige a OTEC, empresa de consultoria que atua no setor de real estate. Possui especializações em Green Buildings (Colorado State University), Investimentos Imobiliários (FGV), e Operações de Mercado Financeiro (FIA). Atua, também, como conselheiro do capítulo brasileiro da IBPSA.

Fonte: Redação IBEVAR